Mesmo correndo o risco de ser acusado de revolver águas passadas, não posso deixar de lembrar um episódio que gravou para sempre o nome de Orismar na memória de um jovem repórter de Economia.
Orismar mostrou toda dignidade e altivez ao sofrer uma ameaça velada em plena redação do Jornal do Commercio, no antigo prédio da Rua do Imperador.
Tive o privilégio de testemunhar, ao lado de vários colegas mais novos então, mais este dia histórico deste JC, com repercussões nas eleições do ano seguinte.
Corria o mês de agosto e o ano era 1999.
Uma inocente nota sobre o espigão de Brennand, na coluna social, despertou a ira do então prefeito Roberto Magalhães, do PFL.
No dia 9 daquele mês, o prefeito visitou a redação do jornal com um revólver na cintura e perguntou a Orismar a sua idade então e se o colunista não gostaria de chegar ao 80 anos, atacando sua honra.
Abriu o paletó e deixou à vista a arma que carregava na cintura.
Segundo o prefeito, Orismar o teria desonrado ao publicar nota sobre o veto ao projeto da Torre do Farol de Recife, de autoria de Francisco Brennand.
Na verdade, a nota publicada sequer citava o nome do prefeito. “Atire, atire!”, reagiu o jornalista, demonstrando muita coragem e frieza.
Na seqüência, toda a redação imediatamente mobilizou-se contra a desastrada atitude do prefeito e, em pouco tempo, antes que Magalhães chegasse ao térreo do prédio, o país inteiro já rechaçava a tentativa de intimidação.
Dou este depoimento primeiro para homenagear o estimado colega de trabalho, não com o objetivo de denegrir a imagem do deputado federal Roberto Magalhães, que tenho certeza aprendeu muito com o episódio.
Depois, porque nesta profissão é preciso manter a cabeça erguida sempre.
Na direita ou na erquerda, com ameaças de processo ou à base de revólver, quando não com o manejo das duas armas, não faltam poderosos que queiram intimidar os bons repórteres, aqueles que honram o nobre ofício do jornalismo.