Em rápida entrevista por telefone, o coronel Luiz Meira, ex-diretor geral de Operações da Polícia Militar, conversou com o Blog de Jamildo, com exclusividade, sobre o badalado filme Tropa de Elite.
O único site local que fez um especial sobre o filme, ouvindo várias tendências de opiniões, tentou ouvir o policial, mas não conseguiu fazê-lo a tempo.
Mesmo assim, Meira topou quebrar o silêncio e falar sobre segurança pública, mesmo que de forma indireta, desde que entrou na reserva, em julho deste ano.
Já assistiu o filme três vezes, inclusive sendo duas delas em versão pirata.
Veja os pontos em destaque abaixo.
Conceito do filme O filme é muito bom. É excelente. É a realidade nua e crua.
O filme é profundo.
Principal mensagem O filme mostra como a droga está infiltrada em toda a estrutura de nossa sociedade.
Mostra também a hipocrisia da classe média, como grande financiadora da droga.
Gostei também de ver o envolvimento da política com a corrupção.
Aliás, não é só com a política, é com o Judiciário, com tudo.
Peito lavado O bom policial ficou de peito lavado.
Quem é honesto, pode olhar olho no olho todo mundo, ficou satisfeito.
Eu senti isto pela primeira vez.
Até que enfim algum mostrou o lado podre da polícia.
A polícia tem um time do bem e um time do mal.
Eu sempre fui do bem e até na reserva continuo no time do bem.
Necessidade de faxina na PM Concordo com o governador quando ele diz que a PM precisa de uma faxina.
E como precisa. É o bom senso, é uma boa visão que indica isto.
E o exemplo tem que vir de cima, para que os comandados sigam.
Tem que pegar a cabeça, para que os outros sigam o exemplo.
Aliás, sai da PM de bem com o governador e não o contrário, como chegaram a insinuar.
Repeteco Vi duas vezes em DVD e depois fui ao cinema, no Tacaruna.
Não foi na sala em que aconteceu o incidente com o agente penitenciário, uma coisa estranha.
Ele suicidou-se, com um tiro na posição correta e tudo.
Vou assistir uma duas vezes mais.
Tem sempre uma faceta diferente que a ansiedade não permite ver no primeiro momento.
Por isto, quero ver de novo para tirar dúvidas.
Cena emblemática Na passeata, em que o tenente Matias começa a ser discriminado por ser PM, tem um monte de pessoas de branco.
Na primeira vez, só vi estudantes.
Depois percebi que há famílias.
Na verdade, o que a cena mostra é que a sociedade faz um grande teatro.
Querem colocar a culpa no Estado, quando na verdade a culpa é dela mesma, a família.
Não é só estudante.
Elogios ao Capitão Nascimento Não concordo que ele seja facista, como disseram. É um profissional zeloso, que aprende a lidar com os esquemas e manter-se no bem.
Ele joga o jogo que é possível, que é permitido jogar. É o jogo da sobrevivência.
Ele vê realmente que o problema é da política pública, embora queiram jogar toda a responsabilidade de resolver todas as coisas em suas costas.
Ele começa a ter problemas com a corporação, como aquela ordem para ninguém subir e não sobe. É uma dura na corporação corrupta e tanto.
Leitura de pijama Com tempo livre, Meira dedica-se à leitura.
Quando concedeu a entrevista ao Blog de Jamildo, estava na Livraria Cultura, no lançamento do livro Tráfico de Drogas e o Crime Organizado - Peças e Mecanismos (Editora Juruá), do cientista político da UFPE Adriano Oliveira.