Da Isto é Gente Assim como Deus um dia mandou que se fizesse a luz, Peter Gasper, 63 anos, o maior iluminador do Brasil, também quer fazer o mesmo, só que no coração do País: na Praça dos Três Poderes em Brasília. É lá que Peter vai imprimir seu estilo, que segundo ele próprio define, busca ressaltar a poesia das formas. “A beleza das obras de Oscar Niemeyer está comprometida por aquelas terríveis luzes amarelas sobre pedras brancas”, critica.

De fato. À noite, a praça fica praticamente às escuras e as parcas luzes existentes – algumas efetivamente amarelas – mal ressaltam os monumentos.

O governo do Distrito Federal reconheceu a deficiência e na sexta-feira 10 aprovou o projeto do iluminador. “Quero destacar as curvas da arquitetura de Brasília, dar visão aos detalhes e trabalhar com claros e escuros para tornar o ambiente mais agradável”, explicou.

Para chegar ao coração do País, Peter aproveitou-se da amizade com o arquiteto Oscar Niemeyer, cultivada desde que iluminou o sambódromo no Rio de Janeiro. “Eu vivia falando mal da iluminação de Brasília.

Dizia para o Oscar que aquilo estava acabando com a obra dele”, afirma.

Tanto insistiu que um dia o arquiteto o apresentou ao governador Joaquim Roriz.

Resultado: Peter deu opinião na nova iluminação do parque da cidade, nas luzes da Esplanada dos Ministérios dos dois últimos natais e recebeu a tarefa de iluminar o Memorial JK e a Catedral, ambos concluídos.

Agora pretende começar a mexer na luz da Praça dos Três Poderes antes do final do ano. “Vai depender de dinheiro”, avisa.

Em tudo o que fez na vida foi assim: por insistência.

Nascido na Alemanha, Peter chegou ao Brasil com 11 anos de idade fugindo da guerra com a família.

Passou a adolescência em Santa Catarina e mudou-se para o Rio de Janeiro para cursar arquitetura.

A caminho da faculdade, passava sempre pela antiga TV Tupi, que lhe despertava imensa curiosidade.

Ali fez amigos e arranjou seu primeiro emprego.

Passou a dividir os estudos com a função de ajudante de cenógrafo, mas com o respaldo da arquitetura, não demorou para tomar a frente da cenografia.

Quando se formou, já era um profissional de renome. “Ganhava mais que a maioria dos arquitetos”, lembra.

Trabalhou em outras emissoras até chegar à Rede Globo, onde formou uma geração de cenógrafos.

Fez o cenário de todas as novelas das décadas de 60 e 70, mas um dia, depois de tanto brigar com os iluminadores, decidiu aprender sobre luz. “Fiz inúmeros cursos e me achei nesse caminho”, conta.

Foi assim que reformulou a iluminação de todos os programas da Globo e pôs fim à chamada “luz chapada”, aquela luz branca e forte que ilumina tudo por igual.

Criou as sutilezas e as nuanças.

Ganhou fama e a Globo ficou pequena para ele.

Iluminou o show de Frank Sinatra no Maracanã, a missa do papa no Aterro do Flamengo e por fim foi convidado para iluminar o Rock’n’Rio, quando, pela primeira vez no mundo, o público, e não só o palco, foi iluminado. “Coloquei 900 refletores no palco e 3.200 na platéia”, conta.

O sucesso ele vai repetir no ano que vem, na versão portuguesa do Rock’n’Rio.