A família de Ivson Correia de Oliveira Santos, 39 anos, morto na noite desta segunda (15) em conseqüência de um tiro disparado durante sessão do filme Tropa de Elite, não percebeu mudanças no comportamento do agente penitenciário que pudessem indicar uma disposição para o suicídio.

Também desconhecia o fato dele estar sendo investigado por suposto envolvimento em irregularidades na penitenciária de Igarassu, onde já rabalhou.

Um inquérito apura facilitação da segurança na entrada de drogas e armas na unidade.

Quem falou pela família na tarde desta terça (16), durante o enterro no cemitério Morada da Paz, em Paulista, foi o coronel da reserva do Exército Aluízio Vasconcelos, amigo dos familiares. “Foi uma surpresa total”, contou. “Não se esperava essa atitude.

Ele não aparentava nada de diferente.

E o assunto da investigação só vimos hoje nos jornais”, explicou.

Segundo o coronel, Santos parecia passar por um ótimo momento em sua vida pessoal. “Alvi-rubro doente, tinha menos de dois anos de casado.

Estava praticamente em lua-de-mel.

E a coisa que ele mais queria na vida era ter um filho, que estava com 9 meses.

Isso tudo deixou a família perplexa”, contou.

Ele acrescentou que Santos era uma pessoa alegre e muito querida pelos amigos.

Vasconcelos não soube informar que atitude a família vai tomar em relação às investigações sobre as irregularidades em Igarassu. “É muito cedo”.

ENTERRO Dezenas de pessoas, entre familiares, amigos e agentes penitenciários, acompanharam o enterro, nesta terça, em Paulista.

Também estiveram presentes o deputado estadual Luciano Moura (PCdoB), amigo da família, e a prefeita de Olinda Luciana Santos, parente de Ivson.

Discreta, a prefeita só foi vista no final da cerimônia, quando já deixava o local.

Ela não falou com a imprensa.

Sobre o túmulo, coroas de flores da família, dos servidores de Olinda, do atual secretário de Ressocialização do Estado, Humberto Vianna.

O secretário de Ressocialização do governo anterior, Josberto Rocha, contou que teve o agente em sua equipe durante um período e lembra dele como alguém alegre e descontraído. “Mas, a gente não sabe até que ponto uma pessoa agüenta pressão”, analisou.

Rocha disse que pelas conversas que manteve com colegas do agente, ele dava sinais de que tinha problemas sérios. “Ele parecia mesmo estar pré-disposto ao suicídio”, destacou.

TROPA O roteirista de Tropa de Elite e ex-capitãp do Bope, Rodrigo Pimentel, que pela manhã deixou o Recife de volta ao Rio de Janeiro, lamentou a morte do agente.

Para ele, Tropa de Elite pode sim provocar comoção em pessoas que trabalham com segurança.

Pimentel lembrou os casos de policiais militares do Rio de Janeiro que teriam deixado a sessão chorando.

No entanto, ele continua acreditando que o filme não foi o causador direto da atitude extrema de Santos (a hipótese de suicídio está praticamente confirmada). “Um homem angustiado com uma arma na mão é muito perigoso”, afirmou.

Pimentel voltou a destacar que o caso do Recife foi único no universo de 12 milhões de pessoas que viram o DVD pirata e das 900 mil que já assistiram ao filme nos cinemas, desde a semana passada.

O ex-capitão do Bope conversou sobre o caso, por telefone, com os produtores do filme.

Mas até a hora do embarque para o Rio de Janeiro, no final da manhã, não tinha conseguido entrar em contato com o diretor do longa, José Padilha.