Da editoria de Cidades do JC A implantação do Parque Dona Lindu, em Boa Viagem, Zona Sul do Recife, que estava estimada em R$ 18 milhões, custará R$ 29.662,711.

O orçamento final da obra, que ficou R$ 11,6 milhões mais cara, foi divulgado, ontem, pelo prefeito João Paulo Lima e Silva (PT) em entrevista por telefone, do Rio de Janeiro.

Segundo ele, o valor, reajustado em pouco mais de 60%, inclui a construção do parque, equipamentos, decoração e mobília. “Enfim, tudo para o espaço entrar em funcionamento.” É praticamente o mesmo valor investido na urbanização da orla de Brasília Teimosa (engorda da praia, reforço no muro de contenção do avanço do mar, pista, paisagismo, quiosques, estacionamento, parques e arena esportiva), aquisição do terreno do Casarão do Cordeiro e construção, no local, do conjunto habitacional com 704 apartamentos e 56 casas.

Tudo isso custou R$ 30 milhões.

Na avaliação do prefeito, o valor da obra não deve provocar espanto. “Havia uma estimativa de custo, que foi atualizada com o detalhamento dos serviços.

Quem conhece o auditório de Oscar Niemeyer no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, entende a dimensão das propostas do arquiteto.

Estamos criando, na beira-mar, um cartão-postal do Brasil.” A prefeitura pretende utilizar recursos próprios e estabelecer parcerias.

O Dona Lindu é um projeto de Oscar Niemeyer e, se for implantado, será a primeira obra do arquiteto no Recife.

Amanhã, a prefeitura divulga o edital de licitação para escolha da empresa que executará o trabalho. “Creio que até o fim de 2008 (quando termina o mandato de João Paulo) o parque estará pronto para ser inaugurado”, declara.

Ele disse que o parque será administrado por um conselho, com representantes do município e da comunidade. “A proposta da gestão compartilhada está pronta, para ser regulamentada.

O auditório do Ibirapuera é gerido de forma conjunta entre a prefeitura e o povo”, informa João Paulo.

Sobre as críticas ao projeto, o prefeito disse que está tranqüilo porque “questionamentos sempre existirão numa sociedade democrática.” Anunciado em março último, o projeto contempla teatro, sala de exposições e esplanada para eventos.

Na ocasião, moradores de Boa Viagem, arquitetos e ambientalistas questionaram a pouca quantidade de área verde no local.

Em junho, a prefeitura apresentou uma nova versão, com 73% de área verde e solo natural (sem impermeabilização) e 27% de área construída.

A área de lazer ocupará dois terrenos com 33 mil metros quadrados, entre a Avenida Boa Viagem e a Visconde de Jequitinhonha.

Os imóveis pertenciam à Aeronáutica e foram cedidos ao município pela União, no ano passado.

AMPARQUE Petrônio Martins, presidente da Associação Amigos do Parque (Amparque), acredita que o valor da obra vai acender mais ainda a polêmica em torno do Parque Dona Lindu. “Já havia reclamos com o custo de R$ 20 milhões (R$ 2 milhões correspondem ao valor do projeto)”, pondera.

Ele acrescenta, porém, que esse não é o foco da questão, agora.

No momento, a entidade questiona o lançamento do edital de licitação antes do desenrolar da denúncia contra o parque, feita ao Ministério Público Estadual pela Associação.

O grupo cobra o estudo de viabilidade e de impacto de vizinhança decorrentes da implantação do parque naquele trecho do bairro. “A prefeitura está avançando etapas, antes de abrir licitação é preciso esperar a discussão da viabilidade no Ministério Público e a aprovação do projeto”, destaca Petrônio Martins. “Acho que esse é mais um gesto político, para dizer à sociedade que o município está pronto para licitar o parque”, comenta.

Ele discorda do percentual de área verde divulgado pela prefeitura, na nova versão do projeto. “O trecho destinado a plantio de árvores e grama não chega a 40% do terreno.

A peça de grande porte é o equipamento do centro cultural”, diz.

Esta semana, a associação formaliza nova denúncia no Ministério Público, sobre ações realizadas no terreno pelo município.

PS: com a palavra o Ministério Público.

Passou da hora da prefeitura explicar detalhadamente como esse dinheiro vai ser gasto.

Passou da hora de apresentar os estudos sobre o impacto na vizinhança.

Como é que uma estimativa sofre um reajuste desta magnitude?

O prefeito não se espanta com o valor da obra simplesmente porque está gastando um dinheiro que não é dele.