O troca-troca de partidos no Congresso é café pequeno comparado à gigantesca e silenciosa infidelidade praticada por vereadores pelo País afora.

A União dos Vereadores do Brasil (UVB) calcula que pelo menos três mil vereadores trocaram de legenda nas últimas semanas, em romaria comandada do alto da pirâmide por ministros e governadores da base aliada do governo Lula.

Aliciadores e aliciados ouvidos pela Agência Globo explicaram as traições em massa fazendo o mesmo raciocínio: o convite para estar do lado da poderosa máquina administrativa, com a expectativa de colher dividendos das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), foi uma proposta tentadora demais para quem já está pensando nas eleições municipais de 2008.

Estados como Bahia, Paraná, Ceará, Amazonas e Goiás, cujos governos estão alinhados com o Palácio do Planalto, responderam por mais da metade das trocas de partido nas câmaras municipais.

Na Bahia, ocorreram pelo menos 300 mudanças, a maioria patrocinada pelo ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, candidato a herdeiro do espólio de Antônio Carlos Magalhães e que comanda a bilionária obra de transposição do Rio São Francisco.

Só não foi atrás de Geddel quem já tinha acordo fechado com o governador Jaques Wagner (PT), o que também significa estar de mãos dadas com o governo federal. “Quem está com ele (Geddel) está com poder diferenciado. (O ministério) Tem muita obra.

Ele é hoje um cara muito importante.

O pessoal está vendo que o PMDB na Bahia é o futuro”, diz o presidente da União dos Vereadores do Brasil (UVB), Joabs Sousa Ribeiro, vereador de Ilhéus pelo PP. “Só na semana passada, na Bahia, mais de cem (vereadores) trocaram de partido.

Foi todo mundo para o PMDB de Geddel”, diz.

Herdeiro legítimo do carlismo, o deputado ACM Neto (DEM) assiste impotente à transferência do patrimônio político do avô para o peemedebista. “Geddel está atropelando todo mundo.

Ele está oferecendo muita coisa.

Tem o amparo do governo federal, espaço importante no governo do Estado e o comando da Prefeitura de Salvador. É muito difícil segurar a debandada.

Só podemos oferecer credibilidade e expectativa de poder em 2010”, afirma.

Segundo ACM Neto, Geddel está atropelando até o PT. “Jaques Wagner preparou o bolo para a festa, e Geddel assopra a velinha”, afirma.

Em viagem ao exterior, Geddel não foi localizado para falar sobre o troca-troca.

Jaques Wagner, por sua vez, reconhece que a migração maior na Bahia tem sido para o PMDB. “O motivo dessa grande migração é o de sempre: o prefeito é aliado do governador, e o vereador segue os prefeitos.

Quando há uma mudança, os prefeitos migram para os partidos aliados.

Mas, para o PT, que é um partido que tem uma estrutura mais rígida, não veio quase nada.

Para o PMDB é mais fácil”, afirma.