A edição desta semana da revista Veja, que está chegando às bancas, tem como matéria de capa o filme Tropa de Elite.

A principal publicação semanal do País é só elogios ao filme, o que, a princípio, é natural.

A obra dirigida por José Padilha vale mesmo a pena ser vista.

O problema é assinar embaixo de todas as opiniões veiculadas “subliminarmente” (grifo meu) pelo filme.

Sim, porque, neste caso, se está concordando com o ponto-de-vista do capitão Nascimento (vivido por Wagner Moura) - não apenas a figura central, mas o próprio narrador de Tropa de Elite.

Personagem de ficção - ainda que inspirado em fatos ou pessoas reais - Nascimento retrata a si mesmo como um sujeito honestíssimo, embora se reconheça um torturador.

Para a Veja, Tropa de Elite é um grande filme porque, entre outras coisas, não concede válvula de escape ao dissecar como a criminalidade degradou o País de alto a baixo. “O pesadelo real ganha ainda mais nitidez.

A sociedade brasileira, pelo jeito, ansiava por esse tapa na cara dado pelo capitão Nascimento, o policial interpretado magistralmente por Wagner Moura”.

Claro que o tapa na cara, aqui, está no sentido figurado.

A veja se refere à realidade exposta de maneira crua pelo filme.

Mas é sempre bom tomar cuidado com certas metáforas.

Em um outro trecho da reportagem, a revista lembra que o tráfico de drogas é tema comum na cinematografia nacional recente. “A diferença é que esse filme o aborda pondo os pingos nos is.

Bandidos são bandidos, e não ´vítimas da questão social`.

Há policiais corruptos, mas também muitos que são honestos.

Se existem traficantes de cocaína e maconha, é porque há milhares de consumidores que os bancam.

Muitos desses consumidores, aliás, são aqueles mesmos que fazem ´passeatas pela paz´ e compactuam com a bandidagem para abrir ONGs em favelas.

Por último, a brutalidade de alguns policiais pode ser explicada pelo grau de penúria e abandono que o estado lhes reserva”, diz o texto da revista.

O capitão Nascimento não escreveria melhor.

Assim como não se pode dizer que bandidos são “vítimas da questão social” - concordemos com a Veja - não dá para justificar a violência de policiais por conta do “grau de penúria e abandono que o estado lhes reserva”. É preciso usar a mesma moeda nos dois casos.

Do mesmo modo, a generalização que o filme faz do papel da ONG na favela é também um perigo.

Parece até que todo integrante dese tipo de organização é avião de traficante ou “playboy” irresponsável.

PESQUISA A Veja chegou a encomendar uma pesquisa ao Vox Populi sobre o impacto do filme no público.

Alguns dos números impressionam tanto quanto os tapas na cara desferidos pelo capitaõ Nascimento durante o longa.

Oito em cada grupo de dez entrevistados dizem que a culpa pela existência dos traficantes é dos usuários de droga.

Apenas 51% acham que a tortura não é um meio aceitável para obter a confissão de um bandido.

Outros 47% concordam com o método.

Além disso, 53% julgam o capitão Nascimento um herói.

Vale perguntar se este número seria o mesmo caso o personagem fosse intrerpretado por Chico Dias (o cafetão Jáder da novela Paraíso Tropical) e não pelo simpático e excelente ator Wagner Moura (o Olavo da mesma novela).