Por Jayme Asfora* Uma polícia que mata e tortura.

Uma polícia para a qual, bandido bom é bandido morto.

Uma polícia incorruptível, mas que excede seus limites e que é vista como heroína pela população.

Essa é a polícia do Batalhão de Operações Especiais do Rio de Janeiro (Bope) retratada no filme Tropa de Elite, mas também é a mesma polícia que pode ser encontrada em qualquer Estado da Federação e que, hoje, parece ser a única coisa que funciona no combate à excessiva criminalidade que toma conta do País.

A polêmica sobre o filme Tropa de Elite – que ainda, de fato, não vi, mas tenho acompanhado pelo noticiário – traz à tona uma discussão maniqueísta sobre a polícia e a sua atuação na luta contra a violência. É possível aceitarmos uma polícia que não se corrompe, mas tortura e mata os bandidos?

Será esse o caminho para conseguirmos viver em um estado de paz?

Acredito que não.

Até porque, até hoje, o Rio de Janeiro, mesmo com a atuação do Bope, não conseguiu acabar com a permanente situação de calamidade que, muitas vezes, transforma a Cidade Maravilhosa no palco de uma guerra civil.

Sabemos que os cidadãos de hoje não pensam, e nem querem pensar, na questão dos direitos humanos.

A situação atual leva a população, diariamente, a se preocupar apenas com a sua sobrevivência. É compreensível que tenhamos chegado a esse ponto, ao nos depararmos com as notícias de que milhares de pessoas inocentes morrem anualmente vítimas da bandidagem.

Dessa forma, os códigos de comportamento dos “mocinhos” e dos “bandidos” acabam por se confundirem.

Mas é impossível aceitarmos de bom grado que a polícia mate ou torture bandidos, uma vez que, há bem pouco tempo, essa mesma polícia matava e torturava opositores do regime militar.

O direito de uns é o direito de todos. É preciso que o crime seja combatido com voracidade e que a impunidade acabe no País.

O maior mérito do Tropa de Elite é, sem dúvida, trazer para a sociedade a discussão sobre o aparelhamento e a corrupção na Polícia. É imprescindível que a nossa legislação seja atualizada para combater os crimes e as organizações criminosas mais modernas. É importante dotar as nossas polícias de instrumentos, tecnologia e salários condizentes com a atividade.

Mas não podemos, em hipótese alguma, aceitar a violência policial por mais que sejam necessários heróis em nosso cotidiano. *Presidente da OAB-PE e colaborador do Blog.

Para ler mais sobre Tropa de Elite, clique no ícone do filme, na barra verde aí do lado.