Franco Taglarinni* Se eu fosse um bispo e tivesse na minha diocese um padre comemorando 50 anos de sacerdócio, eu o convocaria para um almoco festivo em minha casa e lhe daria de presente três meses de férias, pagas pela diocese, com direito a infringir, nesse período, todas as leis que ele, com tenacidade e sacrificios, cumpriu durante meio século, irrepreensivelmente.
Se eu fosse um bispo e tivesse na minha diocese um padre comemorando 50 anos de sacerdocio, eu convocaria meus colegas bispos da região e todos os padres de minha diocese, para uma missa campal festiva, presidida por mim, determinando que todas as paróquias avisassem que, naquele dia, as missas de horario seriam suspensas, para a comemoração.
Se eu fosse um bispo e tivesse na minha diocese um padre comemorando 50 anos de sacerdócio, eu convidaria todos os líderes de todas as religiões, cristãs, ou não, existentes na minha região, para participar dessa missa de aniversário, dando-lhes, ecumenicamente, lugar de honra a meu lado, para que eles pudessem ver esse exemplo de fidelidade e dedicação à minha Igreja, num mundo tao cheio de deslealdades.
Se eu fosse um bispo e tivesse na minha diocese um padre comemorando 50 anos de sacerdócio, eu faria desse padre meu confessor pessoal, esperando beber nele a riqueza de sua experiência no cumprimento obstinado de seu dever, imitando-o e inspirando-me nas virtudes que alimentaram, durante tantos anos essa perseverança, que, conforme garantiu Jesus, leva à salvaçao.
Se eu fosse um bispo e tivesse na minha diocese um padre comemorando 50 anos de sacerdócio, eu me comportaria como qualquer família humana se comporta, quando um casal completa bodas de ouro, nem sempre tão pacíficos, como se desejaria que fossem.
Se eu fosse um bispo e tivesse na minha diocese um padre comemorando 50 anos de sacerdócio, eu o nomearia como o primeiro dentre meus conselheiros, perdendo apenas para outros de mais tempo de ordenação, enxergando nele a virtude da temperança, tão própria dos anciãos.
Se eu fosse um bispo e tivesse na minha diocese um padre comemorando 50 anos de sacerdócio - e sobre ele recaísse a denúncia de uma infração pública a uma disciplina eclesiástica - eu o chamaria em particular, deitando sobre ele a minha mais afetiva e terna bênção de pai e de pastor, além de perdoá-lo pública e solenemente, reconhecendo nele o sagrado direito de errar, na convicção de que um escândalo, a essa altura da vida desse padre, seria um pecado que eu não gostaria de levar para a Eternidade.
ENTRETANTO…
Como eu nao sou um bispo nem tenho na minha diocese nenhum padre comemorando 50 anos de sacerdócio, permito-me apenas acalentar esse sonho, na certeza de que ele seria o mínimo que me caberia fazer, no fiel desempenho de meu munus de pastor.
Alias, se eu fosse um bispo e não me permitissem realizar esse ideal de pai extremado, melhor mesmo seria que eu não tivesse recebido o episcopado.
Afinal, outorgue-se ao diabo o poder que não pode. *Escritor e poeta batizado na Igreja Católica.
PS: o artigo fala sobre a polêmica punição imposta ao Padre Edwaldo Gomes, de Casa Forte, pelo Vaticano, a partir de denúncia do arcebispo Dom José Cardoso Sobrinho.
Se é que o leitor não percebeu.