Por Vinicius Torres Freire, colunista econômico da Folha de São Paulo TUCANOS E Democratas, os demos, ex-pefelistas, tornaram-se campeões da fidelidade partidária, agora que a pimenta do troca-troca parlamentar arde nos seus olhos.

Querem cassar os parlamentares que mudaram de partido, em geral para comer na mão do governo -ou para mordê-la.

Dizem que estão com a lei, devido a uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral, em parte ratificada pelo Supremo.

Quanta fidelidade.

A idéias?

A programas?

Fidelidade à cara-de-pau.

A diferença entre os conglomerados tucano-demo e o petista-lulista é de método, apenas.

O PT terceirizou o inchaço do governismo por meio de partidinhos de aluguel e outros negócios, evidenciados no mensalão.

No primeiro governo FHC, a “base aliada”, esse nome ridículo para coalizão governista, contratava parlamentares diretamente.

PSDB e PFL embarcavam adesistas e negocistas nas próprias legendas.

Na época se dizia que o PSDB se tornava um partido “omnibus”, como o sociólogo Fernando Henrique Cardoso denominara o balaio oposicionista do MDB nos anos 70. “Omnibus”, em latim, “de todos” ou “para todos”, como FHC explicaria em suas memórias, fazendo troça da tradução escangalhada que a palavra receberia durante seu primeiro mandato, “partido-ônibus”.

O PSDB inflou sua bancada de deputados federais em mais de 50% entre a eleição de 1994 e as vésperas do prazo de filiação para a eleição de 1998; o PFL, o segundinho da coalizão, mais modesto, engordou 25%.

Mas agora tucanos e demos batem-se pela lei, no caso a tal decisão do TSE.

A lei, ora a nossa lei.

A lei, as decisões judiciais e as cortes supremas, nas quais ministros se acusam em público de não terem moral para dizer isso ou aquilo.

Os tribunais eleitorais, que levam anos para condenar fraudes eleitorais.

O TSE, que tumultuou a eleição de 2006 com ações confusas de seu presidente.

A decisão do TSE mereceu dezenas de argumentos jurídicos tanto a seu favor como contra, a depender do gosto político ou técnico do freguês.

Outra decisão confusa e tumultuária neste país de chicanas, jeitinhos e de entulhos legais -o governo FHC quis usar a Lei de Segurança Nacional da ditadura militar contra o MST.

Dada a balbúrdia jurídica, quem sabe ainda vigorem partes das Ordenações Filipinas ou do Código Comercial de Pedro 2º. É evidente que o troca-troca de partidos é uma vergonheira, com raras exceções.

Mas qual moralidade ou fundamento político se pretende restaurar com esse apostolado farisaico da fidelidade partidária?

Fidelidade a quê? À turma do “chinelinho” de Renan Calheiros?

Aos chefes de quadrilha do mensalão, ainda por aí a mandar e a extorquir cargos?

Como funcionaria o tribunal da cassação de mandatos?

O pessoal do PSOL achou que estava num PT, o qual porém faleceu com a eleição de Lula e com o mensalão.

Saíram do PT.

Casos assim acarretariam perda de mandato?

Vai haver uma Mesa de Consciência Ideológica?

Mais provável é que se criem federações informais de partes de partidos diferentes, acordos ainda mais escusos, sublegendas da fisiologia.

O nome dessa balbúrdia jurídico-político-eleitoral é oportunismo, só.

Reforma séria, prudente e progressiva?

Neca.