Do portal Terra Moradores da Vila Cruzeiro, no complexo de favelas do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, estão insatisfeitos com o que consideram “apologia” ao trabalho do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope), no filme Tropa de Elite, que estreou nos cinemas neste final de semana.

Segundo o líder comunitário da Vila Cruzeiro, Luís Cláudio dos Santos, a atuação dos agentes nas áreas carentes coloca em risco a vida da população, mas o problema não foi destacado pelo longa-metragem de José Padilha.

O filme, ambientado em 1997, quando se preparava uma nova visita do Papa João Paulo II ao Brasil, mostra o protagonista, capitão Nascimento (Wagner Moura), comandando uma operação de “limpeza” de criminosos, em um morro do Rio de Janeiro, de nome fictício.

Na trama, para o controle dos morros, os integrantes do Bope valem-se inclusive de espancamentos e torturas. “Eles fantasiaram da forma que queriam.

A realidade é bem diferente.

Os homens do Bope chegam com o Caveirão (carro blindado utilizado em operações), os moradores se assustam e correm.

Eles acabam sendo confundidos com criminosos e são baleados”, destacou Santos.

Somente este ano, mais de 50 pessoas morreram e 80 ficaram feridas durante confrontos entre traficantes e policiais do Bope em conjunto com agentes da Força Nacional, na área do complexo do Alemão.

A Polícia Militar admitiu que várias vítimas eram inocentes, mas nesses casos alegou que elas foram atingidas por balas perdidas.

Entidades ligadas à defesa dos Direitos Humanos, incluindo a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), investigam se ocorreram excessos.

A presidente do Movimento Pela Vida, Vera Alves, concorda com a opinião do líder comunitário da Vila Cruzeiro, mas acha que a ausência da “truculência policial” contra a população não teve a intenção de esconder o problema. “O filme se preocupou mais com o lado do cotidiano da polícia para exaltar o Bope.

Mas, de fato, deveria mostrar como, muitas vezes, os PMs invadem casas de pessoas inocentes.

O filme chegou a exibir moradores sendo abordados com ignorância, mas foi algo superficial”, disse.

Para o sociólogo Guilherme Carvalhido, declarações de moradores de favelas precisam ser tratadas com cuidado porque podem ser apenas uma forma de inibir o trabalho da polícia. “O tráfico pode estar aproveitando esta situação para prejudicar a imagem do Bope.

Em alguns casos, os moradores se influenciam por não perceberem claramente o conceito do bem e do mal”.

Segundo o diretor José Padilha, o filme não teve o objetivo de exaltar os integrantes do Bope como heróis, tanto que mostra o personagem capitão Nascimento querendo deixar o batalhão antes do nascimento do filho.

Ele disse ainda que o objetivo do filme foi mostrar o olhar da polícia e da classe média em relação aos traficantes. “A gente fica até assustado quando algumas pessoas vêem o capitão Nascimento como herói.” O atual comandante do Batalhão de Operações Especiais da PM, tenente-coronel Alberto Pinheiro Neto, disse que não vai fazer nenhum tipo de comentário sobre o longa-metragem.

Ele se limitou a dizer que “o Bope é tão especial que tem até filme”.