O jornalista Paulo Henrique Amorim que, durante anos, foi correspondente internacional e âncora da Globo, trabalha hoje na Record do bisbo Edir Macedo, que está se credenciando como principal concorrente da emissora carioca.
No seu blog Conversa Afiada, voltou a bater nos antigos patrões neste domingo.
Confira, abaixo. 1/3 + 1/3 +1/3 O editorial do jornal francês Le Monde deste domingo, dia 07 de outubro, é sobre “o pluralismo político no noticiário da televisão”.
Imagine tratar de um assunto desses no Brasil – seria uma ameaça à liberdade de imprensa (da Globo) …
O título do editorial é “onipresença”.
Trata-se de uma crítica à freqüência com que o presidente da República, Nicolas Sarkozy aparece, especialmente na televisão: quase todo dia ele anuncia um pacote novo de medidas e a mídia francesa – especialmente a televisão – se comporta como o admirador passivo, acrítico.
O Monde lembra que, recentemente, o partido da oposição, o Socialista, encaminhou ao Conselho Superior de Áudio-Visual (um órgão que a Globo impediu que houvesse no Brasil, na seqüência da aprovação da Constituição de 88): um órgão para garantir o respeito ao pluralismo político na televisão.
O Monde relembra um hábito que sempre foi respeitado: a regra dos três terços: as televisões tinham que manter um equilíbrio entre as personalidades do Governo, da maioria no Congresso, e da minoria no Congresso.
Na França, Sarkozy acabou com o hábito dos três terços.
No Brasil, na Globo (que ainda detém uma fatia majoritária da audiência), prevalece a regra 1/1 – só “um” tem espaço – o que ela quiser.
O “um” é o que for mais apropriado para derrubar o Presidente Lula.
A deputada Luiza Erundina, a propósito de re-estudar as regras para concessão de canais, pretende analisar também os hábitos da televisão brasileira.
Aqui, no Conversa Afiada, já fizemos uma sugestão provavelmente inútil: que se estudasse a possibilidade de contestar os “colunistas” / editorialistas da Globo: quando a Miriam Leitão falasse que o Governo Lula faz uma política desastrosa, alguém pudesse contestá-la imediatamente (e não esperar um processo judicial …).
Fazemos agora outra sugestão: que a Deputada Erundina conceba mecanismos para assegurar, aqui, também, na Globo, a regra do 1/3 + 1/3 + 1/3.
Fala o Governo, a maioria defende, a oposição critica.
Vem uma nova eleição.
A oposição vende.
Fala o Governo, a maioria defende, a oposição critica e lá vai a democracia em frente …
Ainda nessa edição de domingo do Monde, há uma reportagem sobre uma assembléia do sindicato dos jornalistas para discutir “a multiplicação das pressões políticas e econômicas” sobre os jornalistas.
O sindicato pediu uma audiência ao Presidente Sarkozy (que ainda não os recebeu) para propor “uma modernização legislativa dos estatutos legais que tratam da mídia”.
Uma das sugestões dos jornalistas seria incluir nessa “modernização” o direito de a redação dizer “não” ao diretor de redação escolhido pelo empregador.
Aqui no Brasil, isso seria um desastre.
Primeiro porque os sindicatos de jornalistas tratam de defender o uso (abusivo e desnecessário) do diploma, e lutar por aumento salarial.
E nada de criticar o caráter 100% conservador e golpista da mídia brasileira.
E segundo porque, no Brasil, onde, como diz o Mino Carta, jornalista “chama o patrão de colega”, a clausula do direito de dizer “não” poderia sair pela culatra …