“Eu disse desde o início que a maior quebra de decoro de Renan era usar o cargo em benefício próprio, para atingir os outros e se beneficiar.
Por isso tinha de se afastar da presidência”, disse o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), que nesta segunda (8) anuncia, com Pedro Simon (PMDB-RS), uma reação ao afastamento da CCJ.
Senadores de diversos partidos, do PT ao DEM, devem apresentar nova representação contra o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL) por quebra de decoro.
A acusação será a de que Renan usou o cargo para reunir munição contra adversários, manipular o andamento dos processos no Conselho de Ética e arbitrar indicações e trocas de parlamentares no conselho e na Comissão de Constituição e Justiça.
A nova representação pode ser assinada por Jarbas e Simon, mas deve ser apresentada por algum partido político, provavelmente o PSDB ou o DEM.
Senadores desses dois partidos, além do PDT e até do PT, se dispõem a reforçar o pedido.
A troca na CCJ foi a gota d\água para que senadores se convencessem do uso da máquina - estrutura que controla prestações de contas, nomeações e influi no andamento de processos - em favor de Renan.
O servidor Marcos Santi, ex-secretário-adjunto da Mesa que renunciou ao cargo denunciando pressões de Renan, procurou Simon e Jarbas.
Ele se dispõe a ser testemunha no Conselho de Ética em caso de nova representação: “Fiquei profundamente frustrado de ver que minhas denúncias não foram investigadas”.
Ele prestou depoimento ao corregedor da Casa, Romeu Tuma (DEM-SP), relatando fatos que, no seu entender, demonstram que Renan usou a estrutura da presidência em sua defesa pessoal.
Entre os documentos entregues por ele está uma questão de ordem redigida na Secretaria-Geral da Mesa, para ser lida por um aliado de Renan no Conselho.
Não é função da Secretaria-Geral redigir questões de ordem, e sim subsidiar a Mesa para responder a indagações dos senadores.
Santi disse estar disposto a dar detalhes sobre a atuação da secretária-geral, Cláudia Lyra, em prol de Renan.
Lyra revisou notas taquigráficas do depoimento secreto que Renan prestou ao Conselho, o que retardou a entrega da transcrição aos senadores.
Na sexta veio à tona novo episódio.
Um assessor da presidência do Senado, Francisco Escórcio, teria protagonizado tentativa de espionagem sobre os senadores Demóstenes Torres (DEM-GO) e Marconi Perillo (PSDB-GO). “O que está acontecendo é de uma sem-vergonhice sem precedentes”, disse Demóstenes.
O caso deve servir como evidência da nova representação contra Renan, caso os partidos decidam a apresentá-la neste ano.
A Folha procurou a assessoria de Renan na sexta para rebater as acusações de usar o cargo em seu benefício.
A informação foi de que Renan viajara para Alagoas.
As perguntas foram repassadas por e-mail, mas não houve resposta.
Sobre as acusações de Santi, a assessoria reiterou que não houve “nenhuma demanda” do senador ao servidor para que atuasse nos processos contra ele. (Com a Folha de S.
Paulo)