Do G1 Indiferente às críticas e perguntas dos parlamentares, a amante do senador sorri para as câmeras e lentes dos fotógrafos e pede licença aos integrantes da CPI para anunciar seu ensaio de nudez numa revista masculina.
A cena, protagonizada pela personagem Bebel (Camila Pitanga) no último capítulo da novela “Paraíso Tropical” é mera peça de ficção, mas as “semelhanças com a realidade” preocupam parlamentares da vida real. “Não podemos, numa sociedade democrática, estabelecer restrições à manifestação cultural.
No entanto, entendo que a autocrítica ela é bem-vinda.
Não posso concordar quando se trata de uma questão panfletária, sem conteúdo, desprezível.
Ou quando a própria encenação, parecendo-se ficção sem ser, não condiz com a realidade dos fatos”, critica o senador Almeida Lima (PMDB-SE).
Aliado do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Lima acredita que “na ficção, houve uma caricatura muito mal trabalhada” do primeiro processo por quebra de decoro contra Renan – acusado de ter recebido recursos de um lobista para pagar despesas da jornalista Mônica Veloso, com quem teve uma filha numa relação fora do casamento.
O senador foi absolvido pelos colegas.
Já o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) entende que a realidade do parlamento brasileiro hoje é “tão dramaticamente negativa” que nem os novelistas conseguem lhe fazer justiça. “Quem macula a imagem [do parlamento] é quem comete erros dentro do parlamento.
Os autores afirmam sua liberdade de expressão.
A não ser que os deputados e senadores tenham passado a tomar a novela como realidade, o que ela não é.
A realidade é pior”, diz.
Relator da CPI da crise aérea no Senado, Demóstenes Torres (DEM-GO) faz coro.
Para ele, a “sátira” levada ao ar pela novela foi “amena” diante dos fatos. “É claro que para a classe política é desconfortável, mas foi até justa.
Uma cena bem humorada e foi até amena.
Merecia uma represália maior”, afirma.
AUDIÊNCIA O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) comentou a cena de “Paraíso Tropical” com colegas no Conselho de Ética e disse que as referências indiretas eram motivo de preocupação.
Ao G1, Suplicy disse ter se referido ao fato de uma novela, atração “com recordes de audiência”, trazer uma imagem do Senado “que não é a mais positiva”.
Esta semana, Simon levou à tribuna do Senado uma entrevista dada pelo novelista Silvio de Abreu à revista “Veja” em que o autor se dizia surpreendido com o resultado de pesquisas feitas com o público durante sua última novela, “Belíssima” (2006). “Ele queria que no fim da novela a bandida fosse para a cadeia, que a mulher não trocasse o marido pelo amante, mas as pessoas disseram não.
Então, ele diz que nos últimos tempos há uma deterioração dos costumes.
A sociedade mudou completamente”, afirma o senador. “Acho que temos que debater esta questão.” FICÇÃO Questionado sobre a semelhança entre o caso que provocou seu primeiro processo com a cena exibida no último capítulo de “Paraíso Tropical”, Renan Calheiros ironizou. “Se houvesse alguma veracidade nisso não estaria na novela, estaria no noticiário.
Mas acabou melancolicamente como uma ficção na novela”, disse em entrevista ao programa “Canal Livre”, da TV Bandeirantes.
Durante o lançamento do seu ensaio para a revista “Playboy”, na última quarta, a jornalista Mônica Veloso rejeitou qualquer semelhança com a personagem Bebel. “Eu não acho que a minha história tenha absolutamente nada a ver com a personagem da Camila Pitanga.
Minha história é outra”, disse.
Mônica aproveitou a ocasião para anunciar o o livro que lançará em novembro em que pretende explorar os bastidores de Brasília. “O livro não fala de nenhum político especificamente, fala das relações em Brasília.
Existe uma curiosidade grande sobre como as coisas acontecem lá, como é esta relação entre fonte e veículos de comunicação.
Acho que tem uma avenida enorme para poder explorar”, disse, fazendo mistério sobre os próximos capítulos.