Por Giovanni Sandes e Renato Lima Da editoria de Economia do JC No Estaleiro Atlântico Sul, serão 5 mil empregos.
Na Refinaria Abreu e Lima, surgirão até 20 mil vagas na construção e 1.500 na operação.
Na planta petroquímica de Suape, 1.700 empregos são esperados para o pico da obra e 500 na operação.
Além das milhares de vagas a preencher, o que esses empreendimentos têm em comum é chegar praticamente ao mesmo tempo em uma mesma área do Estado, Suape, principal complexo portuário e industrial de Pernambuco.
No vácuo da forte geração de empregos, os megaprojetos trazem esperança de trabalho formal e renda ao exército de 311 mil desempregados da Região Metropolitana do Recife (RMR), cálculo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Dos projetos que estão chegando, o estaleiro será o que vai demandar mais trabalhadores. É uma indústria intensiva em mão-de-obra, que usa muitos soldadores.
Mas Pernambuco não tem experiência no setor naval, o que forçou a empresa que implantará o estaleiro a preparar meticulosamente um plano de qualificação. É justamente esse, dos grandes projetos, que ficará pronto primeiro, e precisa, urgentemente, do planejamento de funcionários para cumprir o contrato de entrega de dez grandes navios petroleiros para a Petrobras, a partir de julho de 2010.
Ao surgirem as primeiras ofertas maciças de emprego, investidores e governo estadual descobriram que boa parte dos candidatos a um posto de trabalho tem reduzida qualificação profissional e precisa passar por cursos de capacitação técnica.
Mas isso só não seria suficiente.
Governo e empresas também perceberam que, a despeito da escolaridade dos candidatos no papel, o domínio de conhecimentos era muito baixo.
Eles precisam reaprender o básico: português e matemática de 4ª série.
Surgiu, então, o projeto Reforço de Escolaridade, iniciado na semana passada com 5 mil alunos.
Serão 50 dias de aulas.
A seleção dos beneficiados pelo projeto foi por concurso público, realizado no último dia 23.
Foram 7.265 candidatos.
O Jornal do Commercio acompanhou 60 dessas milhares de pessoas.
Nas entrevistas, foi aplicado ao grupo um questionário elaborado em conjunto com a Consultoria Econômica e de Planejamento (Ceplan).
Entre as surpresas, gente com nível superior completo disputando uma vaga no Reforço de Escolaridade, na ânsia de conseguir em Suape um emprego melhor do que o atual.
Isso além das histórias de frustração na busca por trabalho formal e a esperança de ter êxito nessa procura, finalmente. “Deixo currículos em lojas do Centro do Recife, em shoppings, onde der.
Fui até vítima de propaganda enganosa.
Uma conhecida me indicou uma agência de emprego onde paguei R$ 10 para me inscrever.
Uma semana depois, o dono foi preso por estelionato”, lembra Fabiana Dias, 27 anos.
Ela batalha por um emprego há dois anos. “Tenho experiência na área de escritório e recepção. É com isso que espero trabalhar em Suape”, afirma.
Entre os entrevistados, há quem já passou mais de três décadas trabalhando e quer recomeçar, aprender uma nova profissão – como o ferralheiro Juscelino de Oliveira Gomes, 56 anos, que procura emprego desde 1996. “Fiz curso de eletricista, mas posso trabalhar com outra coisa”, argumenta.
Há ainda os jovens que concluíram o ensino médio e ainda não tiveram sua carteira de trabalho assinada. “Só não sou casado no papel.
Tenho um filho, moro com minha mulher.
A situação é complicada e minha mãe de vez em quando ajuda.
Minha mulher fez a prova, também.
Eu não tenho preferência por um trabalho específico.
Quero um emprego”, destaca Sandro José de Santana, 21 anos.
Pelo menos na carteira, ele não tem registro de experiência de trabalho.
Do grupo dos 60, 56% já passaram por capacitação e qualificação profissional.
Ainda assim, 66% se declararam desempregados.
Cerca de 42% nunca tiveram carteira assinada e 40% eram pais ou mães de família.
A idade média foi de 29 anos.
A maioria se inscreveu no projeto quase sem informações sobre o objetivo ou o funcionamento do Reforço de Escolaridade.
O entendimento foi apenas o de que uma vaga no projeto é o caminho para Suape.
A Agência do Trabalho fez o cadastramento para o concurso do Reforço e possui um banco com os dados de todos os candidatos.
Porém, não havia detalhamento das informações.
A pedido do JC, a Agência tratou os dados e apurou que 56% eram homens e 44% mulheres.
A maior parte, 63%, possui segundo grau completo.
Apesar do baixo peso no universo de candidatos, um grupo de 147 inscritos chamou a atenção pela iniciativa de participar de um projeto destinado a incrementar português e matemática de 4ª série: 109 dos candidatos têm nível superior incompleto e 38 possuem o canudo de terceiro grau.
PS: A reportagem completa, no JC deste domingo.
E toda a série, ao longo desta semana.