Por Saulo Moreira, editor de Economia do JC No dia-a-dia de uma redação é comum que uma pauta mude várias vezes de abordagem.
Fatos novos surgem a cada momento.
Cabe ao jornalista ficar atento para saber explorá-los e, assim, fazer a melhor apresentação possível aos leitores.
Em relação à série de reportagem Faces da esperança, que o JC começa a publicar neste domingo, vale fazer algumas pequenas considerações.
A idéia original era outra.
Queríamos mostrar que os grandes projetos de Suape, em que pese todos os efeitos positivos que terão sobre nossa economia, trazem um risco econômico e social.
Sem grandes perspectivas e diante de limitadas oportunidades no interior, inevitavelmente o trabalhador da Zona da Mata, do Agreste e do Sertão migrará para a Região Metropolitana do Recife (RMR) em sua legítima luta por uma vida melhor.
O entorno da capital, mais especificamente, o complexo industrial e portuário de Suape, é o motor econômico de Pernambuco. É natural, portanto, que exerça um forte poder de atração.
Mas – aqui surgiu nosso problema –, como provar que o fenômeno da migração já começou?
Ninguém dispõe de dados sobre isso.
Nem o governo, nem as prefeituras nem as universidades se debruçaram sobre o assunto.
Ainda.
Na tarde do último dia 10 de setembro, a equipe de economia do JC, discutindo a pauta, percebeu que teria uma grande chance de verificar se, de fato, a RMR já estava abrigando pessoas que, vindas do interior, buscavam um emprego em Suape.
Dali a 13 dias, em 23 de setembro, um domingo, mais de 7 mil candidatos a empregos fariam as provas de um projeto chamado Reforço de Escolaridade.
Bastava, então, que mandássemos dois repórteres às ruas para que, a partir de entrevistas nos cinco municípios abrangidos pelo projeto, descobrirmos se a migração já estava em curso.
Eis que vieram à tona algumas ponderações: e se os nossos entrevistados fossem todos da RMR?
E se eles, mesmo sendo do interior, se dissessem do Grande do Recife por medo de terem suas chances reduzidas?
Ativamos, então, o Plano B.
Se a migração não fosse comprovada, faríamos uma grande matéria sobre o perfil daquelas pessoas.
Nada de dados técnicos sobre refinaria ou estaleiro.
Nada sobre o setor naval ou petroquímico.
A idéia agora era dar a face mais humana possível aos empreendimentos.
Ainda na reunião do dia 10 chegamos à conclusão que as pautas não eram excludentes.
Era perfeitamente possível fazer as duas matérias.
Pauta definida, escalamos dois jovens e competentes repórteres para a missão: Giovanni Sandes e Renato Lima, sempre acompanhados da Hélia Schepa, verdadeira esteta da imagem.
Passados quase dois meses daquela primeira reunião, surgiram tantas histórias ricas, tantas abordagens interessantes, tantos personagens curiosos que resolvemos ampliar nossa reportagem.
A partir deste domingo e até o próximo, o leitor confere o resultado de todo este trabalho.
PS: Atenção, o cara não é cabotino não.
O título foi feito por mim, Jamildo.