O ARCEBISPO E O PASTOR Por José Paulo Cavalcanti Filho* Respeitável ato de cumprimento do Direito Canônico ou só perseguição?
Eis a questão.
Tudo começou com as comemorações dos 50 anos de sacerdócio do Pe.
Edwaldo Gomes, da Paróquia de Casa Forte.
Na missa em frente à Igreja, concelebraram Pe.
Edwaldo, 2 Vigários-Gerais de Recife e Olinda, 3 Bispos Católicos, 1 Bispo Anglicano, além de aproximadamente 50 padres diocesanos e religiosos.
Prova do bem querer que semeou, nas estradas por onde serviu ao seu Senhor.
O Arcebispo, D.
José Cardoso, não gostou.
E invocou o Cânon 908 - que proíbe, a sacerdotes, celebrar missas com membros de outras religiões, Sem atentar para o sentido finalístico dessa proibição, que está no compromisso de preservar a identidade dos ritos católicos.
E desconsiderando o caráter ecumênico daquele ato, cumprimento exemplar das lições do próprio Cristo - que pregou a paz e a justiça entre irmãos de todas as crenças.
Ocorre que, no altar, havia mais que apenas o Pe.
Ewaldo e aquele Bispo Anglicano.
Todos ali concelebraram.
Todos cometeram o mesmo delito - se é que assim se considere aquele ato ecumênico.
Por isso, quando apenas um devesse responder pelo ato, e certamente caberia esse ônus a um dos representantes do próprio arcebispo - Vigários-Gerais, pessoas de confiança irrestrita de D.
José, por ele nomeados e seus substitutos imediatos.
Porque a eles cumpriria, mais que todos os demais, observar o Direito Canônico.
Ou caberia aos 3 Bispos - figuras que, na hierarquia da Igreja, têm maiores responsabilidades eclesiásticas.
Ou caberia a todos os 50 padres.
Mas nenhum foi punido.
Só Pe.
Edwaldo.
Aqui está o centro da questão.
Por que apenas ele?
Na tentativa de encontrar a resposta, duas possibilidades.
Primeira: D.
José terá denunciando a todos.
E não foram punidos porque a “Congregação para a Doutrina da Fé”, no Vaticano, decidiu responsabilizar um único padre.
Segunda: D.
José terá denunciado apenas Pe.
Edwaldo, protegendo seus 2 Vigários-gerais, os 3 Bispos e os 50 Padres.
Como não temos acesso à burocracia do Vaticano, cabe então fazer ao Arcebispo de Olinda e Recife uma pergunta simples: Vossa Excelência Reverendíssima denunciou, ao Vaticano, todos os que participaram daquela concelebração?
Ou denunciou apenas o Pe.
Edwaldo?
Se denunciou todos e, mesmo admitindo o equívoco de punir tão expressivo exemplo de fraternidade, continuará a ter nosso respeito.
Mas se a resposta for que denunciou apenas Pe.
Edwaldo, tudo muda.
Porque, ao escolher precisamente aquele que melhor simboliza a própria continuação da pregação de D.
Helder, essa denúncia se reduz a só um gesto menor.
D.
José sabe - e bem - a dor de ser réu.
Como homem sofre por isso, ao responder processo em uma das Varas Criminais da capital. É como se tivesse querido compartilhar essa chaga de ser processado.
Em seu íntimo, considera injusto.
Sabe que a injustiça dói.
E escolheu, par, companheiro de infortúnio, um pastor que só faz o bem.
Agora esperamos suas palavras.
Certo que, de todos os comportamentos possíveis a D.
José, o único que não merece respeito é o silêncio.
O silêncio cômodo.
O silêncio cúmplice.
Caso esteja mesmo convencido de ter agido bem, exponha suas razões aos fiéis.
Se quer mesmo proteger seus 2 Vigários-Gerais, os 3 Bispos e os outros 50 Padres, então que o faça.
Lealmente.
Como dizia Oscar Wilde, “os verdadeiros amigos apunhalam pela frente”.
Qualquer coisa menos este silêncio enorme, que nos ensurdece.
P.S.
O texto não é restrição a D.
José.
Nem solidariedade a Pe.
Edwaldo.
Nenhum dos dois precisa disso. *José Paulo Cavalcanti Filho, 59 anos, advogado no Recife