RecordNews no ar jogando notícia no ventilador Por Antonio Brasil No site Comunique-se Sempre disse que o “calcanhar de Aquiles”, o ponto mais fraco da programação da Globo é o jornalismo.
Tem audiência, é “competente”, mas ao contrário das novelas, nunca convenceu o público da sua “veracidade”.
Assistem ao JN com a pulga atrás da orelha Acreditam mais nas novelas do que nos telejornais da emissora.
Eles possuem suas razões.
A trajetória histórica do jornalismo da Globo é repleta de dúvidas, mistérios e falcatruas.
Assim como tantas acusações contra os nossos políticos, no final nada fica totalmente provado.
Mas fica no ar o pior: a dúvida.
E assim como a ética na política, a credibilidade no jornalismo é algo que não permite “suspeitas”.
Ou tem ou não tem.
Por outro lado, muitos ainda assistem ao jornalismo da Globo porque não encontram opção.
Os telejornais das outras emissoras não passam de cópias mal feitas do original.
Seus responsáveis nunca tiveram a coragem ou ousadia de testar novas idéias, formatos alternativos ou pautas diferenciadas.
Na dúvida, copiam e repetem o modelo original.
Daí o fracasso previsível e a garantia de “sucesso”do modelo global.
Mais culpa dos outros do que qualidades próprias.
Mas a Globo também faz a mesma coisa.
Mas ao contrário das suas congêneres nacionais, busca “inspiração” nos EUA.
O JN é cópia dos telejornais americanos, o Bom dia Brasil do Good Morning América, os jornais noturnos – que por sinal já acabaram nos EUA, são cópias piores e mais sonolentas do modelo americano.
Nada se cria, tudo se copia na TV e no telejornalismo brasileiros.
Em 1980, o empresário americano Ted Turner inovou em TV.
Transformou o seu canal por assinatura em uma TV com notícias 24 horas por dia.
Como todo inovador, foi chamado de louco.
Na época, eu trabalhava em Londres para uma grande rede de TV americana, a ABC News e nos referíamos à CNN como Chicken Noodle News ou Rede de Notícias Canja de Galinha.
Nunca iria dar certo.
Para que ou para quem tanta notícia.
Mas além de inspiração e ousadia, a turma do Ted Turner teve sorte.
Muita sorte.
A cobertura exclusiva do bombardeio de Bagdá durante a guerra do Golfo garantiu o sucesso do projeto inovador.
A crise econômica e decadência dos departamentos de jornalismo das demais redes também contribuíram para que a tal “canja de galinha” se tornasse em uma rede mundial de notícias.
Ted Turner fez tática de guerrilha contra as poderosas redes americanas e venceu.
Ou seja, sobreviveu.
O diferencial no gratuito Hoje, a RecordNews tenta fazer o mesmo percurso.
Aqui nos trópicos, tudo acontece em um outro ritmo.
Tudo é mais lento e cauteloso.
Mas acaba acontecendo.
A estratégia da RecordNews obviamente não é enfrentar a fraca e combalida GloboNews.
O alvo da Rede Record é o jornalismo da Globo.
A RecordNews está mais interessada na polêmica, no enfrentamento público contra a Globo do que apresentar uma produto novo ou diferente.
A RecordNews é mais produto clonado para enfrentar a Globo no seu próprio terreno.
Parece muito com o original.
Mas a idéia de oferecer um canal de notícias 24 horas em canal aberto – mesmo que seja uma cópia da Globo ou Band News (os nomes semelhantes não são meras coincidências) revelam uma estratégia de ataque ousada e perigosa.
No momento, não vamos notar seus efeitos.
Mas quando houver uma grande notícia, um grande desastre para ser coberto por canal especializado, a Globo terá que mudar sua própria estratégia.
Não poderá mais confiar tanto cobertura meio jovem, ingênua e irresponsável da Globonews.
No passado, a Globo em vez de investir na Globonews, em vez de tentar melhorar sua operação tão limitada e precária, simplesmente remanejava ou escondia seus concorrentes ou “ameaças”.
A hegemonia preguiçosa e duvidosa da Globonews era garantida pelo desaparecimento das outras redes como a CNN Internacional (em espanhol) ou da BBC das grades básicas de TV por assinatura.
Como toda a trajetória de seu jornalismo, de forma muito competente, porém de forma igualmente duvidosa ou nebulosa.
Desde os seus primórdios, os fins sempre justificaram os meios.
Mas os tempos mudaram.
E isso pode ser muito bom tanto para a Globo como para a Globonews.
Precisamos de um choque de competição no jornalismo de TV.
Infelizmente, esse choque vem da Rede Record, a rede do bispo.
Pobre Brasil!
Mas é melhor do que nada.
O tal “câncer” do monopólio das notícias de TV apregoado pela Record é um mal ainda maior do que qualquer outra ameaça.
Entre a perigo do presente e as ameaças do futuro, costumamos optar pela… inércia. “Ta ruim, mas pode ficar pior”.
Em verdade, não há nada pior do que esse imobilismo tropical.
Rede Vale Tudo Há algum tempo, a Record percebeu essa falha ou “janela” de oportunidade.
Investe em jornalismo da mesma forma que investe em novelas.
Luta pela segunda posição na audiência com as mesmas táticas de mercado e conteúdos de programação da grande rival, a Globo.
A Record é uma TV de guerrilha às avessas.
Enfrenta o inimigo de peito aberto.
Canaliza e capitaliza o espírito anti-Globo.
Quanto mais polêmica, melhor.
Ao contrário do SBT, não se satisfaz com o segundo lugar.
A verdade é que o jornalismo da Globo se confunde com o poder, qualquer poder. É poderoso e arrogante.
Tenta ser maior do que os partidos políticos.
Tenta ser maior do que o seu público.
A Rede Record luta com as mesmas armas e estratégias da Globo para ser a nova…
Globo.
Pode ser que consiga.
A rede do Bispo tem uma fonte inesgotável de recursos em suas inúmeras igrejas.
Pode ser a nova Globo.
Pobre Brasil.
PS: É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey.
Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University.
Trabalhou no escritório da TV Globo em Londres e foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN.
Autor de diversos livros, a destacar “Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica” e “O Poder das Imagens”. É torcedor do Flamengo e não tem vergonha de dizer que adora televisão.