Por Fabiane Moraes, do JC Quando anunciou a mudança de gestão na Fundação Joaquim Nabuco, que vinha sendo presidida há 32 anos por Fernando Freyre, o então ministro da Educação, Cristovam Buarque, prometia: o recém-empossado, Fernando Lyra, deveria passar, no máximo, um ano à frente da instituição.

Ele deveria promover uma série de reformulações, entre elas a implementação de eleições diretas para a presidência da Fundaj.

O anúncio aconteceu em 2003.

Hoje, Lyra continua despachando no gabinete da presidência, e a possibilidade de eleições não é nem sequer comentada no local.

Essa é uma das mais aparentes idiossincrasias da autarquia submetida ao Ministério da Educação (MEC), que, ao pedir 70 cargos comissionados da instituição, provocou um maremoto interno que expôs várias das fragilidades do órgão.

Importantes espaços de pesquisa fechados, sucateamento do Engenho Massangana, demora nas reformas do Museu do Homem do Nordeste e da Biblioteca Central foram alguns dos problemas citados pelos servidores ontem, um dia após a assembléia realizada na sede do órgão.

Lá, eles divulgaram um manifesto onde repudiavam as ações da presidência.

Fernando Lyra, apesar das acusações, preferiu não declarar nada aos jornais.

Passou todo o dia reunido com seus assessores, que prometiam, no mínimo, uma nota sobre a posição de Lyra.

No fim da tarde, ele desistiu de se manifestar.

Pela manhã, no entanto, o presidente falou durante quase sete minutos com o apresentador Geraldo Freire, da Rádio Jornal. “Sou político há 40 anos, não vou ficar discutindo pelos jornais.

As coisas estão sendo colocadas fora no contexto.

Essa história de desmonte da Fundaj é mentira”, disse.

Lyra também tocou nas brigas internas da Fundaj, citando a área de pesquisa como uma das mais problemáticas.

Sobre a entrega dos cargos, divide parte da decisão com seus diretores, que estão fazendo estudos em suas áreas para então colocar que profissionais são ou não “imprescindíveis”.

Em outras palavras, o enxugamento é uma realidade.

Mas não se sabe ainda quantos cargos serão entregues ao MEC, que já levou 44 no início da gestão de Lyra, além de mais quatro vagas alguns anos depois. “Fernando Haddad (ministro da educação) disse ‘Veja a imprescibilidade dos cargos, o que você pode dispensar’”.

Diversos funcionários concursados da instituição concordam com a idéia de uma reestruturação.

Mas não da maneira que o Ministério da Educação propôs. “Numa instituição complexa como a Fundaj, como é possível fazer uma reformulação em tão pouco tempo?

O que o MEC está fazendo, na verdade, são cortes, não reformulação”, diz uma servidora com mais de dez anos na autarquia.

Ela, assim como outros profissionais que concordam com mudanças no interior da Fundaj e conversaram com a reportagem do JC, preferiram não ser identificados. “Há uma comoção grande aqui, o que dificulta uma avaliação dos casos”, diz, referindo-se aos colegas.

Para ela, a Fundaj não pode continuar como está, com diversos cargos engessados. “Existe caso de diretor que tem apenas um subordinado.” A servidora, no entanto, diz que cada ocupação solicitada precisa ser analisada com cuidado – cuidado esse que o MEC e Lyra não tiveram ao disponibilizar os cargos, segundo a profissional. “Os cortes têm que ser feitos, mas eles não podem ser lineares.

Existem pessoas que realmente são vítimas, que estão há mais de dez anos em seus cargos.

Isso não é conseguido com incompetência.

Não se pode desqualificar uma instituição como a Fundaj, que é importante para a sociedade.” Outro servidor diz que as mudanças, de fato, seriam boas para minimizar uma estrutura “freyriana”, que persiste na fundação. “Cada um se sente dono de sua área, é difícil para alguns pesquisadores terem seus trabalhos valorizados”, pontua, referindo-se aos verdadeiros feudos existentes na casa grande.

SEM SENTIDO Durante a assembléia, na terça, um funcionário – que também preferiu não ser identificado – apontou outra pequena controvérsia no interior da autarquia: o último concurso, realizado ano passado, pesquisadores e outros profissionais realizaram uma prova que seguia o tal “modelo freyriano”. “Foram selecionados especialistas em demografia, folclore, etc.

Mas agora existe essa linha mais voltada para a educação, que está sendo colocada pelo MEC.

E o concurso não foi feito seguindo essa idéia”, declara.

Há cinco anos na Fundaj, um servidor concursado diz que o momento é de cautela. “A entrega dos cargos vai prejudicar atividades importantes, como o Laboratório de Pesquisa, Conservação e Restauração de Documentos e Obras de Arte (Laborarte).

São técnicos que fizeram, entre outros trabalhos, a recuperação do Altar-mor do Mosteiro de São Bento, das igrejas de Igarassu.

São pessoas essenciais aqui.” Ele engrossa o coro daqueles que vêem falta de conhecimento do MEC em relação à instituição. “Não temos cargos sobrando, a Fundaj opera no seu limite.

Também não estamos nos recusando a mudar.

Mas o MEC precisa sinalizar realmente que mudança é essa.”