Por Fabiana Moraes Na salas e corredores da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) o assunto é um só: a possibilidade de 70 cargos comissionados da instituição serem colocados à disposição do Ministério da Educação (MEC), que solicitou uma reestruturação ao presidente da autarquia, Fernando Lyra.
Uma assembléia realizada ontem pela manhã na casa grande da Avenida 17 de Agosto, Zona Norte do Recife, mostrou que a relação entre funcionários – concursados ou não – e a presidência é das piores. “Traidor” e “autoritário” foram alguns dos adjetivos usados por alguns servidores para se referir a Lyra, que não quis falar sobre o assunto. “Ele só irá se declarar no dia 9, quando apresenta sua proposta de reestruturação ao ministério”, disse o assessor de comunicação da fundação, Marcelo Mário Melo.
De acordo com os servidores presentes à assembléia, porém, o presidente já solicitou, na sexta-feira passada (28/9), a entrega de todos os cargos de direção e assessoramento superior (DAS 1).
As ocupações na mira do MEC, que alega estar pedindo os cargos por causa do plano de desenvolvimento da educação a ser implementado em 20 anos, estão localizadas ainda nas DAS 2 e 3.
Estão aí incluídos desde secretárias e pessoal de apoio administrativo até coordenadores de projetos (ver arte abaixo).
Alguns deles estão há 15, 20 anos na instituição, que realizou concurso público ano passado.
Isso após 16 anos sem abrir edital para novos funcionários.
O resultado dessa falta de concurso foi o inchaço de empregados precários: por lei, os cargos das diretorias 1, 2 e 3 devem ser ocupados por 75% de servidores de carreira, enquanto apenas 25% podem vir de fora da autarquia.
No entanto, estima-se que atualmente 50% dos profissionais são concursados, enquanto 50% não possuem vínculo oficial com a fundação.
Como se vê, é uma realidade criada em grande parte pela própria falta de uma política de contratação através de concurso.
Agora, paga o pato quem entrou na grande casa pela própria necessidade da instituição. “A existência de um número aparentemente excessivo de cargos comissionados mais retrata as idiossincrasias e anomalias típicas do serviço público, pelas quais não somos responsáveis, mas vítimas, considerando-se a falta de política de pessoal vivenciada ao longo de sucessivos governos, inclusive no atual”, diz Mônica Cavalcanti, membro da comissão de servidores da Fundaj que se reuniu ontem na sala-auditório Calouste Gulbenkian, na sede da instituição.
Essa foi a quarta assembléia realizada pelos funcionários, que dizem estar vivendo dias de terror.
A pressão é grande: alguns deles alegam estar sofrendo ameaças e preferem não se expor.
As informações desencontradas nos corredores só aumentam as especulações sobre a entrega – ou não – dos cargos. “Lyra entende que há equívocos nas análises, o debate está emocional demais.
Mas ele acredita que isso é normal”, diz Marcelo Mário Melo, que não confirma o anúncio da sexta-feira, no qual Lyra teria já notificado mais de 30 profissionais da Diretoria de Cultura e da antiga diretoria de Formação e Desenvolvimento Profissional.
Transformada recentemente em um centro, perdendo assim seu status, a área é, curiosamente, um dos principais links da Fundaj com o MEC.
SEXTA DIFÍCIL Diretora de Cultura da instituição, Isabela Cribari também não confirma tal notificação de desligamentos em sua área, mas declara que, de fato, alguns de seus subordinados foram procurados. “Ninguém saiu ainda.
Estamos nos reunindo com o presidente e fazendo os estudos sobre cada setor.
O que aconteceu é que informamos algumas pessoas que elas, de fato, podem vir a deixar suas funções”, diz.
A prática, de fato pouco simpática em termos de psicologia do trabalho, foi chamada por alguns dos servidores, na manhã de ontem, de ditatorial. “É como nos tempos da ditadura: as decisões arbitrárias eram anunciadas na sexta, à tarde, quando não havia mais tempo para ninguém se mobilizar”, diz Ronidalva de Andrade Melo, pesquisadora da coordenação de Estudos Sociais.