Por Isaltino Nascimento A pergunta título deste artigo é dirigida ao arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, que mais uma vez deu mostras aos católicos pernambucanos da sua intolerância religiosa.

Indiferente ao significado de ecumenismo, o arcebispo acionou o Vaticano para castigar o padre Ewaldo Gomes, que está à frente da Paróquia de Casa Forte, no Recife, há 36 anos.

A punição veio.

Padre Edwaldo foi condenado a ficar afastado da paróquia por três meses e ainda teve que se retratar por escrito.

O pecado que cometeu?

Aos olhos de dom José, padre Edwaldo errou ao concelebrar junto com dois bispos anglicanos, em 4 de dezembro do ano passado, uma missa em comemoração aos seus 50 anos de sacerdócio.

Voltemos à pergunta título.

Desta vez, com mais alguns questionamentos.

Que pecado há em recepcionar, na casa de Deus, integrantes de outras igrejas cristãs em um momento tão especial como a comemoração de 50 anos de sacerdócio?

Faço outra indagação.

Em que a Igreja Católica foi diminuída com a atitude do padre Edwaldo?

O ecumenismo é uma prática aceita por várias denominações religiosas e reforça o respeito à diversidade de cultos.

Afinal, prega a aproximação, a cooperação e a busca fraterna da superação das divisões entre as diferentes igrejas cristãs.

Agora, faço mais uma interrogação.

O que a Igreja Católica perde com o posicionamento de dom José Cardoso?

Do meu ponto de vista, esta visão conservadora afasta ainda mais os fiéis dos templos.

E isso não é de agora.

Desde que assumiu o lugar antes ocupado por dom Hélder Câmara (o Dom da Paz), dom José vem apagando os vestígios de uma igreja, que graças ao trabalho de um religioso visionário, tinha se voltado aos interesses da sociedade e lutava contra a opressão aos mais pobres.

Bons tempos aqueles, quando a juventude se sentia estimulada a lotar as igrejas e a trabalhar por um mundo mais cristão.

Fiz parte do movimento de jovens da igreja na Mangabeira, na Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, vivenciando aquele momento rico da nossa história.

Naquela época existiam em nosso Estado dois espaços importantes para o fortalecimento da fé católica e da Igreja voltada para os mais humildes.

O Seminário Regional Nordeste II (Serene), cuja missão era formar padres que desempenhavam sua missão religiosa a partir da convivência com a realidade das comunidades em que o templo estava inserido.

E o Instituto de Teologia do Recife (Iter), local que proporcionava a formação de cristãos leigos católicos, que além de fortalecer a participação na Igreja, principalmente dos jovens, formando muitas das lideranças que hoje desempenham atividades nas mais diversas áreas dos movimentos sociais em nosso Estado e na região.

A Pastoral dos Jovens do Meio Popular (PJMP) e as Comunidades Eclesiais de Base (Cebs) são também marcas deixadas pelo Dom da Paz, símbolos de uma igreja libertadora e popular.

Hoje, vejo com tristeza como a igreja está afastada da maioria da sociedade.

E em conseqüência deste distanciamento, não atrai mais tantos jovens.

Ao invés de firmar-se e expandir-se, perde terreno para outras denominações religiosas.

Vendo pecado na atitude de padre Edwaldo, dom José caminha em sentido inverso ao pregado por Jesus Cristo: que todos os seus seguidores estivessem unidos.

Assim como Ele e o Pai, que são um só.

PS: Isaltino Nascimento (www.isaltinopt.com.br) é deputado estadual pelo PT e líder do governo na Assembléia Legislativa, escrevendo às terças feiras no Blog de Jamildo.