Por Lúcio Lambranho e Edson Sardinha Do site Congresso em Foco Empresas autuadas por manter trabalhadores em condições análogas à de escravo doaram R$ 897 mil para a campanha eleitoral de 25 candidatos em 2006.

Levantamento feito pelo Congresso em Foco revela que dois governadores, três senadores, nove deputados federais e cinco estaduais receberam dinheiro de empresas incluídas na chamada “lista suja” do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

A governadora Ana Júlia Carepa (PT), do Pará, estado com o maior número de autuações por exploração de mão-de-obra, recebeu o maior volume de recursos.

Foram, ao todo, R$ 252 mil de três empresas: a Companhia Siderúrgica do Pará (Cosipar), a Sidenorte Siderúrgica e a Siderúrgica Marabá S/A (Simara).

Embora não estejam na lista divulgada neste semestre, as duas primeiras indústrias figuravam, durante a campanha da petista ano passado, no cadastro criado pelo governo Lula, em 2003, para coibir esse tipo de crime em todo o país.

Em nota encaminhada a este site após a publicação da reportagem, a assessoria da governadora disse que Ana Júlia não sabia da inclusão dos doadores no cadastro do Ministério do Trabalho e que o governo do Pará trabalha pela erradicação do trabalho escravo no estado.

Principais doadores Incluída na lista em julho deste ano, a Simara também aparece como financiadora de outros quatro políticos paraenses: os deputados federais Giovanni Queiroz (PDT-PA) e Wandenkolk Gonçalves (PSDB-PA) e os estaduais Bernardete ten Caten (PT) e Wanderley da Silva Santos (PV-PA).

Ao todo, a empresa doou R$ 190,49 mil.

A Simara só fica atrás da Siderúrgica do Maranhão S.

A. (Simasa), que destinou R$ 300 mil a nove políticos de seis estados, todos do Nordeste.

Entre os contemplados pela siderúrgica estão o governador de Sergipe, Marcelo Déda (PT), e os senadores José Maranhão (PMDB-PB) e Garibaldi Alves (PMDB-RN), candidatos derrotados ao governo dos seus estados.

A Simasa foi autuada pelos fiscais do Trabalho por se abastecer de carvoarias que mantinham 57 trabalhadores sob condições consideradas subumanas.

Políticos denunciados A “lista suja” traz ainda o nome de dois parlamentares como doadores.

O senador João Ribeiro (PR-TO), condenado em primeira instância pela Justiça do Pará a pagar multa de R$ 760 mil por manter 35 trabalhadores em condições análogas à de escravo, doou R$ 18,75 mil para a campanha da deputada estadual Luana Ribeiro (PR-TO), sua filha.

Procurado pelo site, João Ribeiro informou, por meio de sua assessoria, que não comenta o caso.

Outro deputado estadual, Francisco Dantas Ribeiro Filho (PMDB-MA), o Fufuca, doou para si mesmo R$ 79,80 mil.

Desde dezembro de 2006, o nome do deputado aparece no cadastro do Ministério do Trabalho.

Ele é acusado de manter 12 trabalhadores em condições subumanas em sua fazenda, a Piçarreira, localizada no município de Alto Alegre do Pindaré (MA).

O deputado alega inocência: “Eu não merecia estar nesta lista”.

Ministro do TCU Este é o segundo levantamento publicado pelo Congresso em Foco com base na lista do MTE e na prestação de contas, na Justiça Eleitoral, de todos os candidatos que participaram das eleições de 2006.

Na primeira relação, divulgada em janeiro deste ano, apareciam 16 políticos e um total de R$ 550 mil.

De lá pra cá, esses números aumentaram por causa das retificações de doadores feitos pelos próprios comitês e da inclusão de novas empresas acusadas na lista.

Entre os novos nomes identificados, aparecem o do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) e ex-deputado Aroldo Cedraz (DEM-BA), o do ex-governador de Tocantins Siqueira Campos e o do quarto-secretário da Câmara, José Carlos Machado (DEM-SE) (veja o que eles disseram).

Fiscalizações suspensas A vinculação de políticos ao trabalho escravo voltou à baila na semana passada após os ataques da bancada ruralista no Senado aos fiscais que libertaram, em junho, 1.064 trabalhadores da fazenda da Pagrisa (Pará Pastorial e Agrícola S/A), principal produtora de álcool e açúcar do Pará (leia mais).

Por causa da pressão dos senadores de uma comissão externa, criada para investigar a denúncia da própria empresa de que houve abuso por parte dos fiscais, o Grupo Especial de Fiscalização Móvel do Ministério do Trabalho, responsável desde 1995 pelo resgate de mais de 25 mil trabalhadores, suspendeu suas atividades temporariamente.