por Sérgio Montenegro Filho Se alguém ainda duvida da situação desconfortável - para dizer o mínimo - do nosso país, deixemos de lado as análises, que tomam quase sempre uma visão pouco imparcial, e vamos aos números, que não deixam dúvidas.

E na semana passada, eles vieram em dose dupla.

Primeiro, observemos uma pesquisa realizada pela empresa Opinião Consultoria, sob encomenda da Associação dos Magistrados do Brasil (AMB), que revelou o pior índice de confiança da população nos políticos já registrado nos últimos tempos.

Nada menos que 81,9% dos brasileiros disseram não acreditar na classe dirigente nacional, contra uns poucos 11,1% que mantém algum crédito nos seus eleitos.

Ainda segundo o levantamento, 75,9%9 dos entrevistados não confiam nos partidos políticos, enquanto 16,1% ainda têm fé nessas instituições, tão combalidas e sem qualquer nitidez ideológica ou programática.

A revelação mais grave da pesquisa Opinião/AMB, porém, diz respeito à credibilidade dos senhores congressistas.

Afundados na lama de sucessivas crises e escândalos, os nobres deputados federais perderam a confiança de 83,1% dos brasileiros.

Já os excelentíssimos senadores são alvo da falta de credibilidade de 80,7% dos entrevistados na amostragem.

Apenas 12,5% ainda confiam na Câmara e 14,6%, no Senado.

Outro dado interessante é que a instituição que reúne maior índice de credibilidade entre os brasileiros é a Polícia Federal.

Conta com a confiança de 75,5% dos entrevistados. É seguida pelas Forças Armadas, que detém 74,7% de apoio da população.

Vale ressaltar que a pesquisa foi realizada em agosto, antes, portanto, da polêmica votação secreta no Senado que salvou o mandato do comandante Renan Calheiros, presidente da Casa acusado de quebrar o decoro parlamentar por manter ligações ilegais com um lobista de empreiteira.

Foram ouvidos 2.011 eleitores de todo o País, de diferentes profissões e segmentos da sociedade civil, com margem de erro de 2,2 pontos percentuais.

Bom, como se não bastassem os números sombrios da Opinião/AMB, um outro levantamento - este, de âmbito mundial - confirmou o que, no cotidiano, a grande maioria dos brasileiros já deve ter sentido na pele.

De acordo com dados da ONG Transparência Internacional, o Brasil caiu da 70ª para a 72ª posição no ranking anual da corrupção, em relação à amostragem do ano passado.

Embora o índice conferido ao Brasil tenha oscilado positivamente - teve nota 3,3 em 2006 e 3,5 este ano - no balanço final a situação ficou pior, porque foram incluídos mais países no levantamento.

Somos mais corruptos que países como o europeu Cabo Verde (49º) e os africanos Namíbia (57º), Gana (69º) e Senegal (71º).

O último colocado é o pequeno Mianmar (ex-Birmânia), na Ásia, com nota 1,4.

Vamos mais fundo ainda no poço: De acordo com a pesquisa da Transparência Internacional, entre os países da América Latina, o Brasil - embora se sobressaia economicamente diante de vários dos seus vizinhos - em termos de corrupção ficou no 13º lugar.

Traduzindo para quem ainda não entendeu: o índice é invertido.

Temos na nossa frente, por exemplo, com menores níveis de corrupção, a Colômbia, célebre pelo governo de direita de Álvaro Uribe e pelo domínio das Farc na distribuição de drogas mundo afora.

Dito tudo isto - e com base em números, que não mentem, apurados por instituições de reputação ilibada -, sequer me atrevo a recomendar aos leitores qualquer reflexão a respeito. É provável que não faça muita diferença.

Ao contrário, bom seria que esse exame de consciência fosse feito pelos nossos ilustres dirigentes políticos.

Mas alguém acredita?