Da Veja Dirceu Dresch, ex-líder da Fetraf no período em que foi assinada a maioria dos convênios, conseguiu se eleger deputado estadual pelo PT no ano passado.
Antes disso, ele foi coordenador das campanhas de Ideli Salvatti.
Eles pertencem à mesma corrente política do partido.
Em 2002, Ideli candidatou-se ao Senado e Dresch a deputado estadual.
Fizeram campanha juntos.
Ela venceu a disputa e ele não se elegeu.
No ano passado, Ideli, que desistiu de se candidatar ao governo em favor do então ministro da Pesca, José Fritsch (com quem a Fetraf assinou um convênio), deu uma mãozinha a Dresch, inclusive destacando Lizeu Mazzioni, um de seus assessores em Brasília, para coordenar a campanha.
Ideli e Dresch são sócios na indicação do delegado do Ministério do Desenvolvimento Agrário Jurandi Teodoro Gugel, que assinou doze convênios com a Fetraf e ocupou o cargo até julho passado.
Antes do ministério, Gugel era assessor lotado no gabinete de Ideli.
Em novembro de 2004, Dirceu, Jurandi e Lizeu estiveram juntos em uma reunião na antiga sede da Fetraf, onde discutiram o apoio político da federação e seus filiados a uma eventual campanha de Ideli ao governo.
Em troca, a senadora apresentaria emendas para sindicatos e prefeituras amigas da federação.
A campanha de Ideli ao governo não prosperou, mas as tratativas sobre as emendas continuaram.
Documentos em poder da polícia revelam que, em 12 de setembro de 2005, o então coordenador de política sindical da Fetraf, Daniel Kothe, e o chefe-de-gabinete de Ideli em Brasília, Paulo Argenta, discutiram as formas de viabilizar os recursos para a federação.
Em uma mensagem eletrônica trocada entre os dois gabinetes, chegaram a combinar até o destino das emendas. “Ficamos no aguardo dos encaminhamentos necessários para efetivarmos a aplicação desses recursos na base”, escreveu Daniel Kothe, que substituiu Dirceu Dresch como líder da Fetraf-Sul.
A mensagem deixa claro que as estratégias de ação da entidade e os projetos financeiros passaram pelo gabinete de Ideli.
Os fatos mostram que a relação entre a senadora e o grupo que controla a federação é muito estreita.
Além de Jurandi e Lizeu, já houve mais gente do gabinete ligada à Fetraf.
Cleci Dresch, mulher do deputado Dresch, foi funcionária do gabinete da senadora até março deste ano.
O que ela fazia? “Nunca fui a Brasília.
Eu quero que você converse com o meu marido”, limitou-se a dizer.
O deputado Dresch não quis conversar.
Um ex-auxiliar dele confirmou à polícia que parte do dinheiro desviado da federação foi usada em sua campanha política. “Os indícios de fraude e desvio de dinheiro são muito fortes”, confirma o delegado Misael Mazzetti, da Polícia Federal.