Da Veja A Fetraf foi criada em 2001 por petistas ligados à senadora Ideli Salvatti, mas sua importância social só começou a ser reconhecida depois do governo Lula.
Um dos convênios já esmiuçados pela polícia foi assinado em 2003 com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, que liberou 1 milhão de reais para a entidade promover o treinamento de trabalhadores rurais em Chapecó, interior de Santa Catarina.
Na época, o coordenador da entidade chamava-se Dirceu Dresch, um petista do grupo político de Ideli Salvatti.
Dois mil trabalhadores rurais participaram do curso.
A maioria, descobriu-se agora, era fantasma.
Para fazer de conta que o curso existiu, a Fetraf apresentou uma lista de estudantes, com nome, CPF e endereço dos alunos.
A polícia foi checar e descobriu que muitos não existiam, outros nunca ouviram falar do curso, alguns nem sequer moravam na região e os poucos que disseram ter freqüentado aulas – pessoas ligadas à federação, é claro – assinavam a mesma lista de presença várias vezes.
Nos outros dezessete convênios assinados com a instituição, a história se repetiu.
VEJA localizou no interior de Santa Catarina o agricultor Jackson Luiz Oldra.
Segundo a polícia, ele foi usado pela federação para “captar” alunos para o curso de técnicas de plantio e colheita para jovens.
Sua tarefa para conseguir o diploma de jovem agricultor era pegar as listas em branco na sede da federação, em Chapecó, e devolvê-las completamente preenchidas. “Peguei assinatura até com meu avô e minha avó”, conta o rapaz, que já foi intimado a depor na PF. “A gente faz as coisas para ajudar e acaba se metendo em rolo”, reclama.
Para o Ministério do Trabalho, Ernesto, de 67 anos, e Ana, de 63, constam das estatísticas como “jovens” agricultores.
A federação embolsou o dinheiro.
Os convênios exibem outras fraudes grotescas.
Para dar aulas a alunos-fantasma, nada mais natural que se chame um professor com conhecimentos especiais.
Um dos convocados para a missão exibe um currículo surpreendente.
Marcelino Pedrinho Pies foi contratado em abril do ano passado para coordenar um curso destinado a pequenos agricultores, recebendo 4.000 reais por mês.
O professor Marcelino tem um salário maior que o de muito doutor de universidade, mas seu currículo também é ímpar.
Na mesma época da contratação, ele fez um acordo com a Justiça para doar cestas básicas a uma instituição de caridade.
Voluntário?
Não.
Marcelino, ex-tesoureiro do PT do Rio Grande do Sul, confessou que usou dinheiro do valerioduto para pagar dívidas eleitorais do partido em 2002 quando o candidato ao governo era Tarso Genro, hoje ministro da Justiça.
O dinheiro da Fetraf, que deveria estar formando trabalhadores, vem sendo usado para subsidiar também a pena de criminosos.
A Polícia Federal estima que, no mínimo, 60% dos recursos destinados a treinar os trabalhadores acabaram nos bolsos ou nas campanhas políticas dos marcelinos da federação.
Há evidências que sugerem isso – e muito mais.