Por Edílson Silva No último dia 18 de setembro a Assembléia Legislativa de Pernambuco foi palco de uma cena de truculência e desrespeito à democracia mais elementar.

Um grupo de cidadãos, cerca de 15 pessoas, entre eles o vice-presidente estadual do PSOL, Alexandre Santos, que também é Presidente do Clube de Engenharia de Pernambuco, e o coordenador do Fórum pela Ética na Política, Luis Carlos Lins, dirigiram-se àquela casa para hipotecar seu apoio à proposta de Lei anti-nepotismo apresentada pelo Governo do Estado e fazer pressão pela sua extensão ao legislativo.

Ao abrir uma faixa reivindicando o fim do nepotismo, o grupo viu o Presidente da Assembléia, Guilherme Uchoa (PDT), ordenar aos policiais que servem a Casa que tomassem a referida faixa.

A ordem foi cumprida e a faixa despedaçada, como que por um cão feroz.

Sem a faixa e diante de tamanha truculência e distanciamento do respeito a um direito básico, os manifestantes passaram a proferir palavras de ordem, criticando a repressão.

E Guilherme Uchoa não teve dúvidas em mandar os policiais agirem pela retirada das vozes divergentes do recinto.

A ordem foi cumprida e os manifestantes, inclusive uma militante que é cega, foram retirados truculentamente do ambiente, aos empurrões.

Em Pernambuco, portanto, além da sociedade ter que conviver indignada com este câncer chamado nepotismo, está proibida até de protestar.

O projeto que combate o nepotismo no Executivo avançou.

Mas a medida não “contaminou” o Poder Legislativo.

Uma lista envergonhada correu entre os parlamentares, e foi assinada por grande maioria, evitando que a mesa diretora apresentasse um projeto neste sentido.

As “Vossas Excelências” argumentam que devem esperar a Câmara Federal aprovar matéria sobre o tema para só então se adequarem.

Acontece que a Câmara Federal está mais para aprovar matérias que aprofundam a apropriação privada do espaço público do que medidas que venham a constranger práticas como o nepotismo.

E os referidos deputados estaduais de Pernambuco sabem disso, por isso estabelecem esta relação.

Tramitam no Congresso Nacional as Propostas de Emenda Constitucional 02/03 e 54/99.

A primeira busca efetivar servidores públicos nos órgãos para os quais estão cedidos, de uma Câmara de Vereadores para uma Assembléia Legislativa, para a Câmara Federal ou Senado, por exemplo.

A segunda trata da efetivação no serviço público de trabalhadores terceirizados, sem a utilização de concurso público.

Estas propostas estão sendo chamadas de “trem da alegria”.

Tanto nos casos de nepotismo, quanto nas tentativas de efetivar, sem concurso público, terceirizados e cedidos a outros órgãos, está presente a concepção de Estado como o “quintal lá de casa”.

O Estado não para servir a sociedade, mas para servir-se desta, e aqueles que ocupam o Estado, então, servirem-se fartamente.

Este quadro geral revela o grau de degeneração em que se encontra a casta política em nosso país.

O “cordão sanitário” existente entre estes políticos e a sociedade é tão largo que permite este vale-tudo.

Vale absolver Renan Calheiros.

Vale não condenar os dirigentes da ANAC, os responsáveis, no mínimo indiretamente, pelo caos aéreo e pelas vítimas do último acidente da TAM.

Vale colocar a polícia para calar quem tem a coragem de reclamar olho no olho contra a safadeza do nepotismo.

Vale tentar efetivar no serviço público e em cargos bem remunerados, sem concurso, os cabos eleitorais e amigos.

Há uns dias atrás um amigo meu contou-me, impressionado, que ao pegar um ônibus encontrou um menino de menos de 10 anos sentado nos assentos preferenciais para idosos.

Meu amigo tem 65 anos.

Ao pedir que o menino lhe desse o lugar, apontando-lhe a inscrição que lhe dava este direito, o menino passou a argumentar o por quê dele ter que respeitar isto num país que absolveu o Renan.

Reflitamos sobre isto.

Ou a sociedade se levanta e enterra práticas como o nepotismo, o patrimonialismo, a corrupção e os demais privilégios dos políticos, ou estas práticas vão se cristalizar como cultura popular e enterrar a nossa sociedade de vez.

PS: Presidente do PSOL/PE, foi candidato ao Governo do Estado em 2006 e escreve às sextas para o Blog do Jamildo.