Por Ayrton Maciel Da editoria de Política do JC Os deputados estaduais Emanuel Bringel (PSDB), Sebastião Rufino (Democratas) e Eduardo Porto (PTdoB) assumiram, ontem, a autoria da lista de parlamentares que formalmente se comprometeram a aguardar a decisão da Câmara Federal sobre o projeto de emenda constitucional (PEC) que extingue o nepotismo no serviço público, abortando assim a idéia do grupo que se articulava para que a Mesa diretora da Assembléia Legislativa elaborasse a própria PEC acabando com a prática na Casa.

Os três deputados revelaram ter idealizado a lista e isentaram o presidente da Assembléia, Guilherme Uchoa (PDT) – defensor da prática –, de responsabilidade pela reação dos que preferem esperar aos que se mobilizavam para que o Legislativo estadual tomasse a iniciativa.

Em progressão geométrica, os defensores do nepotismo tinham conseguido, no final da tarde, a adesão de 40 deputados à lista com a indagação “Você concorda que deve-se aguardar o projeto da Câmara Federal?”.

O 40º parlamentar a assinar foi o primeiro vice-presidente da Casa, Izaías Régis (PTB), que em um rompante de irritação, diante dos repórteres, preocupou-se em demonstrar ser imune à pressão externa à Casa. “Não assinei, mas agora vou assinar.

Sou da Mesa e não posso ficar contra a maioria.

E vou assinar na frente de vocês”, cumpriu o que disse.

Deputados pró e contra o fim imediato do nepotismo negaram, porém, ter havido pressão da parte do presidente Guilherme Uchoa para que assinassem a lista. “Eu, liderando?

Esse é o sentimento da maioria há muito tempo (aguardar pela Câmara)”, repudiou a versão Uchoa. “Quem está com a lista sou eu, o coronel Rufino e o Eduardo (Porto).

Assumimos o compromisso de apresentá-la à imprensa quando terminarmos de coletar.

Já temos 40 e ainda tem gente para assinar.

Nego que houve pressão e desafio qualquer deputado a vir me dizer isso.

A adesão foi livre e espontânea”, inocentou Uchoa o tucano Emanuel Bringel, que tem dois sobrinhos no seu gabinete. “Eu bancava os estudos deles antes de ser deputado.

A gente faz política com a família, elege-se e aí não pode empregar nenhum parente?”, questionou. “Não tem nenhuma lei proibindo.

Na hora que tiver, eu dispenso meu filho”, acrescentou Sebastião Rufino.

A lista ganhou força na última segunda-feira, quando deputados foram chamados à presidência e um a um entraram no gabinete de Uchoa.

O presidente queria saber se mantinham a decisão tomada há duas semanas de esperar a posição da Câmara ou se a proposta de projeto da Casa para acabar com o nepotismo tinha maioria.

A lista era apresentada, na ocasião, pelo deputado Emanuel Bringel. “Eu não assinei e disse a Uchoa que não precisa a Casa sofrer um desgaste com essa polêmica.

A gente poderia resolver isso”, afirmou Clodoaldo Magalhães (PTB), do grupo que defende uma PEC da Casa, mas rejeitando a versão de pressão. “Eu não soube de ameaça de perda de privilégios”, referendou o líder do PT, André Campos. “Não houve pressão, não”, acompanhou Sérgio Leite (PT), ambos do grupo pró-PEC imediata. “Não aceito que se rife o presidente Uchoa.

Ele botou a cara contra um projeto da Casa e levou as pancadas, não vou aceitar então que se vote agora.

E ninguém assinou por pressão.

Deputado que aceitasse uma pressão dessa não mereceria ser parlamentar”, protestou Antônio Moraes (PSDB), que assinou a lista.

A Assembléia Legislativa é o único dos poderes e instituições do Estado que resiste a acabar com o nepotismo (o emprego de parentes em cargos comissionados).

A própria Casa aprovou, semana passada, o fim do nepotismo no Executivo.

O TCE, o Ministério Público e o TJPE extinguiram por resolução interna.

A Prefeitura do Recife encaminhou igual projeto à Câmara, que irá votar o seu próprio projeto semana que vem.

PS: 40 foram os senadores que votaram pela absolvição de Renan Calheiros no Senado. 40 foram os denunciados ao STF pelo Mensalão. 40 os deputados estaduais que insistem em associar seus nomes ao atraso.