Por Edílson Silva Não escrevo este artigo com alegria.

Como militante da esquerda socialista, contabilizo nesta semana uma baixa na trincheira daqueles que pelejam em favor do socialismo.

O deputado Paulo Rubem Santiago, finalmente, saiu do PT.

Porém, ao anunciar que pretende filiar-se ao PSB ou PDT, dá um mergulho ainda mais profundo nas águas da incoerência.

Mesmo no PT, e mesmo com um histórico recente de abandono gradual da práxis que lhe dava trânsito num eleitorado mais esclarecido e exigente, assim como na vanguarda militante de esquerda em nosso estado, Paulo Rubem ainda era de certa forma aguardado para fortalecer um pólo ético, combativo e transformador na luta política de nosso estado.

Amplos setores, inclusive o PSOL, aguardavam com esperança que o Paulo Rubem da época em que era aquele deputado estadual destemido, enfrentando a degeneração do PT, o governo Arraes e seus precatórios, ressurgisse para ajudar a recompor a esquerda socialista e autêntica em nosso estado.

Todos receberiam Paulo Rubem de braços abertos e este seria, certamente, alçado à condição de uma das principais lideranças deste processo.

Seria uma festa popular.

Infelizmente, Paulo Rubem optou por aprofundar suas contradições, emprestando suas inquestionáveis qualidades ao PSB dos precatórios ou ao PDT que chefia o nepotismo em Pernambuco.

Assim, frustra aqueles que lhe deram a grande votação para deputado federal em 2002, quando atingiu quase 100 mil votos.

Frustra aqueles que, ao seu lado, resistiam em vão, porém honestamente, no interior do PT.

Frustra aqueles que estão reconstruindo a esquerda socialista brasileira, lutando em todos os quadrantes, como os deputados federais do PSOL, com quem Paulo Rubem vinha atuando com bastante sincronia em Brasília.

Mas, tão pior quanto às opções PSB ou PDT, foram os motivos que levaram Paulo Rubem a sair do PT: a disputa eleitoral para a prefeitura de Jaboatão dos Guararapes.

Não rompeu quando o governo Lula e o PT patrocinaram a reforma da previdência que taxou os inativos.

Não rompeu quando explodiu o escândalo do mensalão, em que o PT ficou atolado até o pescoço.

Não rompeu quando Lula e o PT privatizaram a Floresta Amazônica.

Não rompeu quando Lula e o PT decidiram encaminhar a transposição das águas do Rio São Francisco.

Rompeu somente quando lhe negaram legenda para disputar uma prefeitura.

O motivo que impulsionou seu rompimento nos traz a memória um episódio durante sua candidatura a prefeito desta mesma cidade, quando se aliou a Roberto Magalhães, ícone do PFL (hoje DEM) no estado, colocando o vale-tudo eleitoral à frente de convicções ideológicas.

Nos dois casos, infelizmente, prevaleceu a mesma lógica.

A coerência tem seu preço e faz suas exigências.

Exige coragem para empunhar plenamente as convicções.

Coragem para correr riscos.

Quando Heloisa Helena e outros parlamentares foram expulsos ou saíram do PT, e decidiram não se misturar com a pequena política, fundando o PSOL, não foi uma opção fácil, não foi o caminho de menor resistência.

Heloisa Helena, que poderia ter sido reeleita senadora em 2006, colocou sua “carreira parlamentar” em segundo plano, em nome do fortalecimento de um projeto socialista para o nosso país, indo para uma dura batalha eleitoral contra a falsa polarização PT x PSDB.

Hoje, sem mandato, voltou à Universidade Federal de Alagoas, onde é professora, com um orgulho que a torna cada dia mais forte e mais respeitada.

Para além do exemplo concreto, continua, nas horas e dias que não está na universidade, percorrendo o país e atuando firmemente na política de nosso país.

Assim o fizeram também o ex-deputado federal Babá, um dos ícones da luta contra a reforma da previdência, radical de primeira linha.

Não foi reeleito, mas continua lutando ao lado do povo, sendo um exemplo vivo de que nem todos os que se envolvem na política querem antes de tudo se dar bem.

Isto também aconteceu com a Maninha (DF), João Alfredo (CE), Fantazzini (SP).

Por outro lado, outros se reelegeram, como a Luciana Genro (RS), Ivan Valente (SP) e Chico Alencar (RJ), além de outros parlamentares estaduais.

Ao optar pelo PSB ou PDT, Paulo Rubem deseduca muita gente, e dá razão àqueles que dizem que políticos são todos iguais.

Em qualquer um destes partidos, Paulo Rubem ficará diluído, prensado entre Eduardo Campos e Guilherme Uchoa, compondo um quadro político multicolorido em que a característica fartamente predominante é o oportunismo e a política de baixíssimo nível, das oligarquias e do neoliberalismo.

Em debate recente, no município de Carpina, em que pude dialogar com Paulo Rubem sobre a conjuntura, o nobre deputado atacou duramente a democracia representativa, colocando a necessidade da democracia participativa, do protagonismo da sociedade civil, etc.

Poucas semanas depois o camarada se rende completamente aos limites desta falsa democracia representativa.

Paulo Rubem não fez uma opção apenas de dar as costas para todos os que lhe apóiam e admiram, mas também a opção de dar as costas para a sua história, uma bela história, que foi se esvaziando gradativamente, e que parece se encerrar agora. É uma pena.

PS: Presidente do PSOL/PE, foi candidato ao governo do estado em 2006 e escreve às sextas-feiras para o Blog de Jamildo.