Da Editoria de Cidades Um dos momentos mais duros na vida da agente de saúde Rosinete Palmeira Serrão, 51 anos, foi saber que a única filha, Cláudia Michelle, 27, nunca poderia gerar uma criança.

Seu útero não é desenvolvido o suficiente para suportar uma gestação.

Surpreendente foi a maneira encontrada para realizar o sonho da família.

Rosinete está grávida dos netos gêmeos, após aceitar ser a barriga de aluguel de Michelle.

Será a primeira avó brasileira a dar à luz os netos após gravidez gemelar.

Mais do que fato inédito, um ato de amor, coragem e sublimação.

Antônio Bento e Vitor Gabriel podem nascer a qualquer momento, até o dia 12 de outubro.

Quatro anos atrás, a comerciante Michelle e o marido, Antônio de Brito, não imaginavam que estariam decorando o quarto dos bebês.

Tentaram todos os tratamentos possíveis.

Enfrentaram inúmeras decepções.

Tudo começou com uma reportagem de TV sobre reprodução assistida, que inundou a jovem de esperança.

Telefonou para o médico entrevistado no programa e descobriu que um especialista do Recife poderia ajudá-la. “Passei por três médicos e não conseguia engravidar.

Entrei em depressão.

Depois de um ano, meu marido insistiu para voltarmos ao médico.” O especialista em questão era Cláudio Leal Ribeiro, professor de ginecologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que dessa vez lançou a proposta tentadora: uma parente em primeiro ou segundo grau poderia gestar o bebê, fecundado em laboratório com o óvulo de Michelle e o espermatozóide de Antônio, a técnica da fertilização in vitro.

O problema era que a comerciante não tem irmãs, e sim dois irmãos.

Nenhuma prima estaria disposta.

O Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) tampouco autorizou recorrer a uma pessoa sem laços familiares.

Michelle respirou fundo e fez a proposta à mãe, após sugestão do médico. “O tema era tão delicado que pensei que ela não iria aceitar.” Rosinete não titubeou ao responder. “Ela perguntou: ‘mainha, você faria isso por mim?’ Eu disse: ‘faria, não, faço. É só você me pedir’.

E o que parecia brincadeira virou coisa séria.

Não sabia que teria essa coragem toda, mas não tinha quem me proibisse.

A felicidade dos meus filhos vem em primeiro lugar”, emociona-se a avó coruja.

Em janeiro deste ano, Michelle iniciou o tratamento para estimular a ovulação.

O ginecologista implantou quatro embriões no útero de Rosinete, que fez reposição hormonal.

De lá para cá, a vida da família gira em torno dos garotos e da avó coragem, que mora em Paulista, Grande Recife.

Com tantos cuidados, ela tem uma gravidez tranqüila, sem problemas comuns às gestantes de alto risco, como hipertensão e diabete.

Trinta e sete semanas depois, mãe e filha dividem a alegria da chegada dos gêmeos. “Estou felicíssima.

Não queria correr o risco de outra pessoa ser a barriga de aluguel e depois fazer chantagem emocional com minha filha.

Tenho certeza absoluta que os dois são meus netos, como Mateus, de 3 anos, e João Artur, que vai nascer em um mês”, diz. Às vésperas de realizar seu sonho, Michelle quase não tem palavras para expressar o quanto o gesto da mãe significa. “Minha mãe é mais que tudo para mim.”