Da Folha de São Paulo, em Brasília Segundo o relatório final sobre o mensalão mineiro elaborado pela Polícia Federal, o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia (PTB), atuou para indicar políticos que receberiam dinheiro da campanha de Eduardo Azeredo (PSDB), organizou a contratação do publicitário Duda Mendonça e levantou empréstimos no Banco Rural.

Como no caso do mensalão do PT, Duda teria recebido “por fora” a maior parte do dinheiro referente à campanha de Azeredo.

Segundo a PF, o mensalão petista teve como embrião o mensalão mineiro, originário do esquema de caixa dois da campanha de 1998 de Azeredo, então governador de Minas, hoje senador pelo mesmo partido.

Walfrido coordenou a campanha de Azeredo de 1994.

Ele nega ter sido coordenador da campanha de 1998, mas o relatório da PF indica intensa atuação de Walfrido naquele ano que lembra as ações desempenhadas pelo ex-tesoureiro petista Delúbio Soares no caso do mensalão nacional.

Nos dois mensalões, quem arrecadava e distribuía os recursos era o empresário Marcos Valério de Souza, sócio das agências de publicidade DNA e SMPB.

De acordo com a PF, os esquemas foram alimentados com verbas públicos desviadas.

No esquema petista, era Delúbio quem indicava a Valério os parlamentares aliados que receberiam recursos do caixa dois.

Foi ele também, juntamente com outros integrantes do partido, que definiu como Duda receberia por fora parte dos recursos referentes aos serviços prestados ao PT.

Entre os papéis obtidos pela PF, estão manuscritos de Walfrido.

Num deles, havia a sigla JM e o valor de R$ 500 mil.

O ministro confirmou que se tratava da candidata ao Senado Júnia Marise.

A PF confirmou que empresas de Valério transferiram R$ 200 mil para uma ex-assessora de Marise. “O atual ministro Walfrido dos Mares Guia também participou ativamente das negociações envolvendo a contratação do publicitário Duda Mendonça, cujo pagamento, no total de R$ 4,5 milhões, foi suportado com recursos disponibilizados por Marcos Valério”, informa o documento da PF.

Aécio Neves A PF confirmou que a lista de recebedores de recursos do mensalão mineiro atribuída a Cláudio Mourão, coordenador financeiro da campanha de Azeredo em 1998, não foi montada.

Mourão negava ter assinado o documento.

Da relação, consta R$ 110 mil ao atual governador de Minas, Aécio Neves (PSDB).

A PF destacou também depósito de R$ 15 mil a uma ex-sócia da irmã do governador, Andréia Neves.

Segundo a PF, o mensalão mineiro foi alimentado, entre outras fontes públicas, com R$ 500 mil desviados do antigo Bemge.

A PF rastreou o dinheiro e descobriu que R$ 15 mil foram parar na conta de uma funcionária e ex-sócia de Andréia, chamada Lídia Lima.

Segundo a PF, Lídia não conseguiu explicar satisfatoriamente a razão de ter recebido o dinheiro.

A PF encaminhou o relatório final do mensalão mineiro ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, em julho.

O procurador deverá oferecer nos próximos dias ao STF (Supremo Tribunal Federal) a denúncia criminal contra o senador Azeredo.

Segundo a revista “IstoÉ” publicou no fim de semana, uma das peças sob exame do procurador é um documento da Receita informando que, nos últimos anos, a empresa que Walfrido usou para tomar o empréstimo para Azeredo no Rural, a Samos Participações, teve movimentação (R$ 22,2 milhões) 20 vezes maior em 2002 do que a receita declarada ao fisco (R$ 1,11 milhão).

O inquérito contra Azeredo foi aberto em dezembro de 2005, cinco meses após iniciadas no STF a investigação do mensalão petista.

Outro lado O ministro Walfrido dos Mares Guia reafirmou que não foi coordenador da campanha pela reeleição do ex-governador Eduardo Azeredo.

Disse que o próprio Azeredo reconheceu isso em depoimento à PF. “Fui acusado de receber ilegalmente recursos que nunca recebi, valores que estavam listados num papel que foi rascunhado antes da campanha.” Segundo ele, os dados eram uma referência sobre previsões de gastos para uma futura campanha.

Algumas anotações, disse o ministro, nem se confirmaram, como a referência a recursos para a campanha a senador de Hélio Garcia, que acabou nem se candidatando.

Walfrido também disse que a empresa Price Waterhouse Coopers começa hoje uma auditoria na sua empresa Samos Participações e determinou que ela abra sua contabilidade. “A Samos tem toda sua contabilidade regular.

Mandei abrir todos os dados para a Receita, além de pedir uma auditoria em suas contas”, disse Mares Guia, em referência à suspeita da Receita de que a empresa tenha apresentado movimentos financeiros incompatíveis com sua renda.

Reportagem desta semana da revista “IstoÉ” implica o ministro na operação.

No sábado, em nota, ele negou as acusações e disse que as receitas de suas empresas são “transparentes e oriundas de negócios absolutamente lícitos e declarados à Receita”.

Procurada pela Folha, a assessoria do governador Aécio Neves (MG) não se manifestou até o fechamento desta edição.

Em outras ocasiões em que a Folha tratou da investigação da PF sobre sua campanha de 1998, o Eduardo Azeredo disse que a conclusão da investigação da era “uma boa oportunidade” para provar sua inocência.

Azeredo disse que as verbas não declaradas se resumem a R$ 8,5 milhões, tomados em empréstimos sem o seu conhecimento.