Do site Consultor Jurídico O ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, encarregado pela Ação Penal do mensalão, recebeu da PF um relatório de 172 páginas descrevendo o esquema apelidado de mensalão mineiro.

A acusação versa sobre a campanha eleitoral à reeleição, em 1998, do ex-governador de Minas Gerais, hoje senador, Eduardo Azeredo.

O documento aponta o ministro Walfrido dos Mares Guia como uma das partes atuantes de “uma complexa organização criminosa”.

A PF pede a quebra dos sigilos da empresa do ministro Walfrido, a Samos Participações Ltda.

A PF afirma que a campanha de Azeredo usou um esquema para transformar dinheiro ilegal em recursos líticos. “Tratavam-se de fundos públicos desviados das administrações direta e indireta do Estado de Minas Gerais e de valores repassados à coligação eleitoral por empresários, empreiteiros e banqueiros com interesses econômicos junto ao poder público daquela unidade da Federação.” Datado de 4 de julho de 2007, o relatório da Polícia Federal traz documentos comprometedores para o ministro Walfrido: um deles tem o carimbo “Confidencial”, com a chancela lustrosa da Receita Federal.

Datado de 15 de maio de 2006, o extrato da Receita indica que Walfrido teria feito movimentações financeiras “até 20 vezes maiores do que as declaradas ao Fisco”.

Exemplo: em 2002 Walfrido declara que sua empresa teve a receita de R$ 1,1 milhão.

Mas a movimentação dela, segundo o documento, teria sido R$ 22,2 milhões.

No ano fiscal de 2004 a receita declarada da Samos era de R$ 648 mil.

Mas as movimentações financeiras, ainda de acordo com o relatório, passaram de R$ 3,1 milhões.

Não fica claro se o volume da movimentação foi a soma de entradas e saídas ou se este foi, ao final do ano, o saldo constante na conta.

De acordo com o relatório, as investigações partiram do depoimento do então candidato a vice de Eduardo Azeredo, Clésio Andrade, ex-sócio de Marcos Valério na empresa SMP&B.

Sem meias palavras, Clésio atesta que o ministro Walfrido seria a peça-chave de um “núcleo de poder” do governo Azeredo e, por conseguinte, da campanha à reeleição.

A Polícia Federal, de fato, encontrou anotações manuscritas com estimativas de gastos da campanha, feitas por Walfrido.

Em seu depoimento, o ministro revelou que pertencem a ele os rascunhos mal traçados com valores constantes lado a lado de inúmeras abreviaturas.

Perguntado sobre qual o significado das iniciais “JM”, o ministro Walfrido afirmou se tratar da candidata ao Senado Júnia Marise, para quem seriam remetidos R$ 500 mil.

Na investigação, a PF rastreou a pista.

Chegou até R$ 200 mil das empresas de Marcos Valério drenados para os assessores de Júnia Marise.

Já a sigla HG, ladeada do numeral 280, disse Mares Guia, era uma referência ao candidato a senador Hélio Garcia.

Mas Walfrido meteu os pés pelas mãos, num trecho, e não explicou o significado da sigla “TP”, beneficiada com R$ 1,8 milhão.

Walfrido é apontado como o negociador do contrato da campanha publicitária de Azeredo feita por Duda Mendonça.

De acordo com depoimento de Cláudio Mourão, o tesoureiro da campanha, os serviços da empresa de Duda custaram R$ 4,5 milhões: “R$ 700 mil entregue em espécie e o restante pago por fora, conforme acordo estabelecido com Walfrido dos Mares Guia”.