por Sérgio Montenegro Filho Depois da absolvição de Renan Calheiros - que para quem acompanha o Senado, não chegou a surpreender - houve comentários do tipo “cada país tem o Parlamento que merece”, e coisas afins.

Chavões do tipo que os mais desmotivados, ou menos esclarecidos, lançam mão para expressar seu descontentamento.

Mas não deve ser feito assim.

Tomemos um pouco mais de fôlego na hora de criticar e vamos ao fundo da questão.

Está certo que o Legislativo é a representação mais direta do povo no poder.

Mas é bom que se diga que esse mesmo povo elege gente sem condições de representá-lo graças ao descaso dos próprios políticos.

Ao menos daqueles descompromissados com a melhoria de setores sociais importantes, como a educação.

Aliás, é notória a existência de políticos que costumam lutar contra qualquer iniciativa de aperfeiçoar o ensino gratuito. É uma estratégia de auto-proteção, porque esses maus políticos estão cientes de que, uma vez instruído e, portanto, com melhores condições de analisar as informações sobre os candidatos em cada disputa, o eleitor saberá escolher bem.

E aí, muito dificilmente votará neles.

Ex-ministro da Educação - demitido por Lula pelo telefone, lembram? - o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) ficou rouco de tanto pregar, nas ruas e na tribuna do Congresso Nacional, o discurso da “revolução pela educação”.

Não adiantou.

Entre seus próprios pares ele não encontra eco para o projeto.

E a situação, assim, vai ficando como está.

Os ditos “avanços” se limitam à implantação de programas de cunho meramente assistencial.

São só bolsa escola, bolsa família e tantos outros paliativos que, claro, matam a fome dos que necessitam, mas não empurram o país para a frente.

O caso Renangate foi algo tão forte que causou indignação entre os próprios parlamentares.

Parte deles – inclusive uma fatia da bancada pernambucana, que se confessou surpresa com o resultado da votação em plenário – se diz desestimulada com a atividade política por causa de episódios assim, em que a “casa do povo” faz ouvido de mercador ao clamor da sociedade.

Uma sociedade que queria os mensaleiros cassados e o presidente do Senado apeado do mandato.

O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), um crítico duro do comportamento corporativista da Casa, foi escolhido, recentemente, como relator do projeto do colega Delcídio Amaral (PT-GO) que determina o afastamento imediato de integrantes da mesa diretora que estiverem respondendo a processos na Comissão de Ética.

Bem que uma medida como essas podia ter sido aprovada antes.

Evitaria, certamente, aquelas manobras protelatórias - algumas de regularidade bastante duvidosa ­- impetradas pelo presidente do Senado e seus aliados.

E inclua-se aí o Palácio do Planalto.

Mas se é para alimentar otimismo, confiemos, então, que essa manifesta indignação de parte dos nossos representantes eleitos seja, de fato, legítima.

Só assim é possível acreditar que eles voltarão ao Congresso com vontade de mudar, de fato, alguma coisa.