Por Ana Lúcia Andrade e Paulo Sérgio Scarpa, do JC O deputado Guilherme Uchoa (PDT) ainda tem mais de um ano de mandato e de presidente da Assembléia Legislativa de Pernambuco.

Mas está decidido a disputar a Prefeitura de Igarassu – na Região Metropolitana do Recife – no próximo ano.

E parar por aí.

Uchoa revela, nesta entrevista concedida quinta-feira (13), que vai encerrar sua carreira política se for eleito prefeito da cidade.

Antes, porém, presidirá a Casa na votação que acaba com a nomeação de parentes no Executivo.

A matéria deve ser aprovada.

Mas, para ele, o que os deputados vão fazer “é uma grande demagogia”.

JC – Como o senhor avalia a absolvição do senador Renan Calheiros (PMDB)?

GUILHERME UCHOA – É uma coisa difícil de explicar porque o mundo político esperava que ele fosse cassado. É uma decisão inexplicável do ponto de vista político.

JC – Sobretudo pela forma como se deu: votação secreta e voto fechado…

UCHOA – Esse é que é o grande problema.

A Legislação é feita para ser cumprida.

Mas, às vezes, se faz coisas para agradar. É o que eu estou passando hoje na Assembléia com a questão do nepotismo.

Todos dizem que sou a favor do nepotismo.

Não sou, não serei, e vou votar a favor do governo terça-feira (projeto que acaba com a nomeação dos parentes no âmbito do Executivo).

Agora, tenho formação jurídica.

Fui desembargador eleitoral, sou juiz aposentado, e quando cheguei na Assembléia encontrei uma Constituição Federal e outra estadual que eu fui obrigado a jurar.

Essas Constituições não foram modificadas.

Não é o fato de eu ter um único filho aqui, no meio de mais de dois mil funcionários que recebem R$ 2,7 mil de salário, que vou defender (o nepotismo).

Mas acontece que se um deputado requerer a nomeação de um parente, e eu negar, mesmo com essa lei antinepotismo, não teria nenhuma sustentação jurídica.

Porque ela fere o princípio de ordem constitucional.

A Constituição garante a nomeação.

Agora, essas pessoas que defendem o fim do nepotismo hoje, a maioria está na Casa há dez anos.

Já tiveram vários parentes nos gabinetes e poderiam ter feito um projeto de lei nesse sentido.

Me perdoe a franqueza, mas isso é uma questão demagógica.

Se já nomeei parentes é porque entendi que isso era ético.

Não é hoje, que a sociedade está me pedindo para mudar, que vou dizer que não é mais ético.

A transparência do pensamento é do que o povo precisa.

No meu caso, estou defendendo o Poder.

Esses deputados foram favoráveis ao nepotismo por muitos anos.

E até D.

Pedro I deixou aqui o filho dele, D.

Pedro II!

Deus deixou o filho dele, Jesus Cristo, para tomar conta do mundo!

E assim vem se arrastando.

Não é hoje que vai se mudar isso.

Eu defendo a lei.

Se nós deputados temos a incumbência de legislar, não seremos nós que vamos desrespeitar a Legislação.

No dia em que Brasília (Congresso Nacional) resolver, não precisa nenhum Estado se preocupar com isso. É só respeitar a Constituição Federal.

O projeto será aprovado por unanimidade.

Esse é o sentimento da Casa.

Mas o que vão fazer aqui é demagogia.

JC – A iniciativa do governador Eduardo Campos de enviar o projeto é demagogia?

UCHOA – Isso é decorrência do famoso doutor Sales (o ex-procurador-geral de Justiça Francisco Sales), e que foi renovado pelo atual procurador, recomendando ao governador o encaminhamento do projeto antinepotismo.

Por isso ele mandou por lei complementar, porque se tivesse mandado por uma PEC (proposta de emenda constitucional) atingiria todos os poderes (o projeto proíbe a prática de nepotismo apenas no âmbito do Executivo).

Eu tenho impressão que o governador não mandou por PEC porque tomou conhecimento pela imprensa do meu posicionamento e do da maioria da Casa.

Não havia razão, nem interesse dele, de bater de frente com o Poder Legislativo.

JC – O Poder Legislativo é o Poder menos entendido pela população, é o mais condenado?

UCHOA – Não. É o mais vulnerável.

O mais exposto.

Essa é uma Casa mais aberta.

Diferentemente dos demais Poderes.

Fui desembargador, juiz, e nunca vi ninguém no meu gabinete me pressionando por nada.

Nem a sociedade organizada e nem a imprensa.

Agora, o Poder Legislativo sim, esse é o mais exposto.

Mas quem veio para aqui veio sabendo disso.

Mas repito: estou defendendo o Poder e a Constituição Federal.

Na hora que ela mudar sai (os parentes) no mesmo dia.

Não fica um.

JC – O senhor ainda tem mais de um ano de mandato de presidente da Assembléia.

Quais são seus projetos futuros?

Tem alguma proposta para melhorar a imagem do Poder Legislativo tão combatido pela sociedade?

UCHOA – A imagem do Legislativo foi preservada, até hoje, e continuará sendo.

Não temos denúncia de irregularidades em nada.

Estamos sendo transparentes, ao ponto de a TV Assembléia estar sendo levada à sociedade, embora ainda só para a Região Metropolitana. É meu desejo estender para o interior, inclusive as reuniões das comissões.

Temos as assembléias itinerantes, as comissões têm ido ao interior e, diariamente, funcionado aqui.

E temos, ainda, o projeto da nova sede que talvez não se conclua na nossa gestão, mas vamos começar.

JC – O senhor é candidato à reeleição?

UCHOA – Estou com meu nome lançado para prefeito de Igarassu.

Se eleito, largarei a vida parlamentar por completo.

Tenho muita vontade de ser prefeito da cidade.

E aí encerro a minha carreira política.

Tive lá 11.800 votos (para deputado).

Tenho hoje na cidade uma escola gratuita de informática, com 720 alunos, que funciona há dois anos e meio.

Tenho, há nove anos, um ônibus odontológico nas comunidades carentes que atende 80 pessoas por semana.

E através de um convênio da Fundação que leva o nome do meu pai, Walfrido Uchôa, com a Fundação Altino Ventura, fizemos 81 cirurgias de catarata.

Recentemente fizemos um convênio com o Sesi-Senai para prevenção de câncer de próstata e mama.

Estou tentando, com o governador, a retirada dos presídios de Itamaracá.

Ao mesmo tempo, tentando tirar o quartel da PM, o Cipoma.

Como já estou pensando lá na frente, tenho outros projetos para Igarassu.

Por exemplo: não há uma escola na cidade com quadra coberta.

Igarassu vive da história e do passado.

JC – O senhor pretende se licenciar do mandato de deputado na eleição do ano que vem?

UCHOA – Imagino que vai haver necessidade.

Mas ainda preciso ver a viabilidade de minha candidatura.

Até hoje, graças a Deus, sempre tive sucesso.

Já passei pelos três Poderes.

Coisa que pouca gente conseguiu na vida.

Passei 48 horas como governador, cheguei ao Tribunal de Justiça e à Presidência da Assembléia Legislativa.

Não vou jogar isso fora.

Se meu nome não for aceito (para disputar Igarassu), vou procurar alguém que possa representar e ajudar.

JC – Que cenário se desenha hoje para a sucessão em Igarassu?

UCHOA – Até o dia 30 (prazo limite para a filiação dos que pretendem disputar um mandato na eleição de 2008) ninguém sabe como vai ficar.

Há a possibilidade de o prefeito Yves Ribeiro (Paulista/sem partido) disputar a prefeitura.

Ele é um candidato forte.

E tem uma relação forte com o governador.

Mas eu também tenho.

Na hipótese de nós dois sermos candidatos, acredito que o governador se abstém.

São dois correligionários dele lá.