Por Edílson Silva Tiveram a coragem de absolver Renan Calheiros no plenário do Senado Federal.

Esta instituição, que já fedia publicamente, segundo um de seus integrantes, expõe agora, além da catinga, suas vísceras purulentas.

O fato repercute forte em todo o país e até no exterior, onde nosso presidente se encontra neste momento, observando e controlando à distância o desfecho que lhe favorece.

Como pôde acontecer esta absolvição?

A primeira explicação está na matéria-prima com que é feito o espírito público da maioria das “Vossas Excelências” em questão.

Trata-se de um composto estragado, de quinta categoria, sem um mínimo de nobreza, que ao entrar em contato com a verdade exala o forte e desagradável odor que estamos sentindo neste momento.

A segunda explicação está na estratégia suicida do réu Renan Calheiros: morro, mas levo um bocado comigo!

A memória recente do tudo ou nada de Roberto Jefferson, denunciando os mensaleiros, e o conseqüente julgamento no STF, abrindo processos contra a turma do mensalão, por incrível que pareça, acabaram ajudando Renan.

Operação abafa em caráter preventivo. É como diz o ditado: quem tem culpa, tem medo.

A terceira explicação está no vergonhoso esquema de isolamento do plenário do Senado Federal, construído para que as “Vossas Excelências” pudessem se desfazer, sem constrangimentos, de suas asinhas de plástico e sacar seus tridentes de aço.

Sem imagens, sem som, sem imprensa, com voto fechado.

LapTops proibidos, celulares cerceados, deputados sendo espancados na porta do plenário, como a deputada federal Luciana Genro do PSOL/RS.

TV Senado transmitindo apenas propaganda da “transparência da casa”.

Segurança máxima.

Ocorreu-me propor a transferência de Fernandinho Beira Mar e outros de natureza e periculosidade similares para o plenário do Senado.

Lá estarão realmente isolados da sociedade e resolveríamos este problema até então sem solução.

O inconveniente é que poderiam se especializar em outros delitos.

Quem foram os culpados pela garantia da absolvição?

A turma do PT, indiscutivelmente.

Destaque para aquele do bigodão, hoje mais mercadante do que nunca, que comandou o fiel da balança, transferindo tantos votos quantos foram necessários para salvar o moribundo réu.

Mas a culpa do PT extrapola os limites geográficos do plenário do Senado Federal, e neste quadrante encontramos outros partidos, como o PC do B.

Onde está a CUT?

Onde está a UNE?

Onde está inclusive o MST?

O PT e o PC do B anestesiaram importantes movimentos sociais, pendurando-lhes uma imensa chapa branca em suas fachadas.

A estratégia destes movimentos hoje, com contradições apenas no MST, é assegurar a governabilidade de Lula, independente de qualquer coisa.

Renan sabe disso, e sabe também que a ética da mídia que o importuna neste momento é sazonal.

Renan Calheiros contou e conta com o desastroso retrocesso que a sociedade brasileira sofreu em sua capacidade de reação popular, de controle social direto, através de manifestações de rua.

Este clima apático na mobilização da população é reflexo das sucessivas traições de Lula e sua turma, e do controle que ainda exercem sobre parcela significativa dos movimentos sociais.

Quais as conseqüências e principais conclusões a serem tiradas?

O povo está indignado.

No bairro da Encruzilhada (Recife), onde moro, a fila da padaria onde compro pão, no início da noite do dia 12 de setembro, era um termômetro.

Havia um sentimento geral de indignação misturado com desesperança, e penso que esta reação deve ser a do conjunto do país. “O Brasil não tem jeito… quem rouba é que se dá bem… trabalhar honestamente é coisa pra otário…”, diziam diante das notícias vindas da tv.

Esta desesperança e quase resignação são as conseqüências mais trágicas, profundas e irreparáveis da absolvição de Renan, pois alimentam nosso povo com uma cultura medíocre e criminosa, pavimentando o caminho para a construção de uma nação sem o caráter ético indispensável às sociedades justas e solidárias.

Uma lição importantíssima que podemos e devemos tirar deste episódio é a necessidade de uma profunda revolução democrática em nosso país, colocando no passado esta carcomida e bizantina democracia representativa.

A condenação de Renan não se confirmou por que a população brasileira não tem canais de participação na vida política do país fora dos períodos eleitorais.

Nosso país não tem democracia.

Está comprovado.

Capas de revistas e editoriais furiosos em rádios e tvs por mais de 100 dias consecutivos não foram suficientes para tirar Renan Calheiros sequer de sua cadeira de presidente do Senado.

Faltaram mecanismos institucionais que garantissem a efetiva participação popular no controle da atividade parlamentar, como a revogação de mandatos a partir de plebiscitos junto aos eleitores.

A ação correta e decidida de parlamentares do PSOL, que apesar da pequena bancada é o responsável pelas representações contra Renan, assim como de parlamentares isolados de outras siglas, como Fernando Gabeira, Luiza Erundina e Raul Jungmam, enfrentando inclusive fisicamente a segurança do senado, não foram suficientes.

Faltou a sociedade civil organizada, com seus movimentos sociais, com sua força popular, ocupando as ruas e praças deste país.

A sociedade brasileira precisa perseguir este caminho.

Política não pode ser monopólio dos políticos, e os movimentos sociais não podem continuar reféns de partidos como o PT e o PC do B.

Vamos nos organizar melhor, em nossos locais de moradia, estudo, trabalho e lazer e “entrar na política”.

Sem Controle Social não existe democracia.

PS: Edilson é presidente do PSOL/PE, foi candidato ao Governo do Estado em 2006 e escreve às sextas para o Blog do Jamildo