Por Clóvis Rossi, na Folha de São Paulo de hoje Confesso que estava mais interessado em ver o grande clássico do futebol mundial entre Dinamarca e Liechtenstein (4 a 0) do que o resultado do julgamento de Renan Calheiros.
Fosse qual fosse, o fato de a chamada Câmara Alta do Parlamento reunir-se em sessão secreta, com voto igualmente secreto, já era uma sentença em si mesma.
Quem se esconde de alguém é porque tem vergonha do que faz.
Quem se esconde do público que o elegeu e lhe paga o salário é necessariamente um sem-vergonha, para dizer apenas o que é permitido.
O recurso extremo de proibir os senadores de usar celulares e laptops durante a sessão sugere que o ideal teria sido realizar a sessão em algum presídio de segurança máxima, para o efetivo isolamento total dos pais da pátria.
A falta de vergonha só aumenta quando se lembra que 41 senadores anunciaram à Folha que votariam pela cassação.
Só 35 mantiveram a palavra.
Não chega a ser uma surpresa ligar político à falta de palavra.
Mas o descaramento não precisava ir tão longe.
Quanto ao resultado em si, nada a acrescentar ao que já foi dito aqui mais de uma vez: o mundo político brasileiro desconectou-se completa e definitivamente dos representados.
Representa unicamente seus próprios interesses ou, pior, os seus negócios, com gado ou outras mercadorias.
Renan Calheiros continua a ser um cadáver político.
Absolvido, mas cadáver.
Quem tem 35 colegas que o consideram culpado e outros seis que não sabem se é ou não, pois se abstiveram, tem a maioria da Casa (41) desconfiada de seu presidente.
Além disso, Calheiros, em vez da cadeira de presidente, terá que se sentar na de réu outras vezes, pois responde a dois outros processos no Conselho de Ética. É o retrato acabado da política brasileira.
Putrefata.