A sessão secreta que impediu o afastamento do senador Renan Calheiros do cargo foi um episódio triste, que agride a ética, o bom senso e o mais elementar espírito democrático, afirmou ontem Cezar Britto, presidente do Conselho Federal da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). “A absolvição do senador evidencia a urgência de uma reforma política profunda no país.

O resultado da votação, na contramão do clamor público, distancia ainda mais o Senado, instituição vital ao equilíbrio federativo, da sociedade que deveria representar.” Para Britto, Renan não tem mais condições de permanecer na presidência da Casa. “Seria errar duas vezes”, disse ele, na hipótese de se buscar a manutenção do político no cargo. “O país não merece isso.” O presidente da OAB criticou o voto secreto. “O espírito de corpo que presidiu essa sessão do Senado, e lhe conferiu contornos de ato clandestino, precisa ser definitivamente banido da vida pública brasileira.” O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, foi lacônico sobre o resultado da votação: “Diante do resultado, não há o que dizer.” O ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Célio Borja disse que a decisão da maioria sempre deve ser respeitada.

Mas ele lembra que ainda há outras investigações abertas contra Renan. “Não custa a gente esperar.” Para o deputado federal e presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PDT-SP), as outras investigações movidas contra o presidente do Senado darão continuidade ao processo de desgaste da casa.

Seu temor é uma eventual contaminação da Câmara pela crise. “Como Renan tem outros processos [mais três acusações], ele vai ficar exposto por mais um período.

Isso é ruim porque atinge o Senado e também a nós, da Câmara.

E já temos uma imagem razoavelmente ruim”, afirmou o deputado do PDT.

O presidente da CUT, Artur Henrique da Silva Santos, concorda. “As articulações políticas falam mais alto no Congresso.

Precisamos de uma reforma política e definir qual o papel do Senado”, disse.

Em meio aos insatisfeitos, a presidente da UNE, Lúcia Stumpf, pediu cautela e disse que não cabe à instituição se manifestar sobre um julgamento prévio.

Para ela se, ao final das investigações, o senador for considerado culpado, a entidade “vai cobrar para que seja aplicada a punição necessária”.