O número de 40 senadores necessários para a absolvição de Renan Calheiros não deu-se ao acaso.

Ele é simbólico.

Remete imediatamente aos 40 mensaleiros da denúncia do Ministério Público Federal, aceita pelo STF recentemente.

Só que o recado é ao contrário, neste segundo caso.

Vale a pena mentir, apresentar notas frias, fazer negócios milionários por debaixo do pano. É essa a liçença que os nobres senadores estão dando às novas gerações.

Aos brasileiros que trabalham duro, todos os dias, de forma honesta.

Representantes do povo?

Não senhor.

Não em meu nome e tenho certeza que não também em nome de muitos.

Pelos menos aqueles que não venderam suas consciências, que não precisam mendigar empregos públicos para manter suas incompetências ativas.

Em certo sentido, não surpreende.

O chato é que se acreditava, de verdade, que hoje poderíamos estar fundando um novo Brasil, depois do mar de lama recente.

Pura ilusão.

Isto já aconteceu na Câmara dos Deputados, com a triste pizza ensaiada para a CPI do Mensalão.

O desfecho do caso de Renan é uma senhora pizza, no sentido de homenagear velhas práticas.

Os ventos de moralização do STF definitivamente não sopraram sobre o Senado, uma casa visivelmente imune aos reclames da sociedade.

O Senado deu as costas ao povo sério e trabalhador, em troca da troca de favores.

O mais triste de tudo é ver como a discussão política neste pais assemelhou-se a odienta discussão sobre futebol, uma coisa assim meio clubística.

Não se debate o certo e o errado.

O justo ou o injusto.

A ética ou a falta dela.

Cada um defende suas cores.

Petistas e não petistas esgoelam-se por suas bandeiras, enquanto o País afunda na falta de decoro.

O que adianta ser um país mais moderno, mais rico, se não formos mais civilizados, mais sérios, mais honrados?

O Brasil deveria ser maior do que este campeonato de agremiações.

Mostrou hoje que não é.

Que precisamos evoluir muito enquanto nação.

A briga oposição-situação tornou paroquiana a verdadeira questão, a questão de fundo moral.

Tudo isto, claro, interessou a Renan, principal beneficiado com o clima de Fla-Flu, ele do lado da torcida vermelha, maior e mais barulhenta.

Logo Renan, que já serviu a Collor, a Sarney, a Deus e ao Diabo, antes de ser santificado ao passar para as hostes do governo que não rouba nem deixa roubar (lembram).

O senador mineiro Wellington Salgado, não exatamente ridículo por suas longas madeixas, aproveita a hora para atacar a imprensa.

Na sua argumentação, diz que se a imprensa tiver maior poder do que os políticos, ela vira um partido político e impõe-se ao Senado.

Está redondamente enganado. É fácil entender a campanha que se orquestra contra a imprensa livre deste país.

Talvez seja hoje o último esbarro contra sonhos totalitários de alguns.

Cretinice, infelizmente, não tem limite e essa corre solta.

Na verdade, caro Salgado, o Senado é que ajoelhou-se, diante de interesses menores, fisiológicos, alguns inconfessáveis. É sintomático o comportamento do altivo Aloízio Mercadante.

Quem não lembra de quando estourou o escândalo do Mensalão e o nome do senador, então líder do PT no Senado e candidato ao governo de São Paulo foi abafado, retirado da lista da CPI em um acordo para preservar o ex-governador de Minas e senador tucano por Minas Gerais Azeredo, ex-presidente do PSDB ainda por cima.

Quem deve favores desta natureza, desta magnitude, não pode ser independente e votar com alguma consciência a favor da lisura.

Não no mundo político brasileiro.

O presidente Lula, aquele que não sabia nem nunca sabe de nada, ontem mesmo profetizou, depois de arrumar uma saída estratégica pela esquerda. “Só peço que respeitem a decisão do Senado”, disse, lá do outro lado do mundo.

Como aconteceu com tudo de bom e de ruim neste país, ele já sabia.