O que Isaltino fala é bastante pertinente e merece uma reflexão.

Não se pode reclamar ética de um político e levar uma vida diferente.

Seria hipocrisia.

A exigência de ética na política está na ordem do dia e há razões de sobra.

Na escala cotidiana, não é difícil apontar exemplos de comportamento individual onde não prevalece o rigor que se exige da esfera pública.

Ficou famoso o tal jeitinho brasileiro.

Uma hora são as falsas carteirinhas de estudante.

Noutra, as aposentadorias forjadas no INSS.

Não há faixa da população onde não se verifiquem casos patentes de duplicidade moral.

Assim, os escândalos da vida pública constituem mais reflexo do que aberração.

Na Bahia, aqui perto, uma juíza recebia uma mensalinho de um traficante internacional.

Pode?

Claro que não pode, ainda mais de uma pessoa que teve direito a uma boa educação e recebe bons salários.

Neste momento, o deslize mais vergonhoso foi exposto por uma medida simples, adotada pela Receita Federal, que passou-se a exigir dos contribuintes que incluíssem, na sua declaração de renda, o CPF de seus dependentes maiores de 21 anos.

Cinco milhões de supostos dependentes, cujo nome se incluía nas declarações para fins de abatimento do imposto no ano de 2006, simplesmente desapareceram de vista em 2007.

Com isso, a Receita Federal arrecadou R$ 1 bilhão a mais do que no ano passado.

Uma bolada.

Tudo indica que não existiam de fato esses dependentes declarados em 2006.

Era só cascata, para pagar menos imposto.

Não está correto, se se paga muito, tem que lutar para mudar é a lei e não dribla-la.

Eram simplesmente entidades virtuais.

Nada de mais em um pais em que nos acostumamos a empresas de fachada, fornecedores de notas fiscais, das reses e laranjas com que lidam tantos políticos hoje expostos, com excelentes motivos, à execração da opinião pública.

Em um total de 23 milhões de declarantes do Imposto de Renda da Pessoa Física, 5 milhões de dependentes-fantasma é um número bastante alto de gente querendo levar vantagem em tudo sempre que possível, antes de orgulhar-se mais da própria astúcia.

A todo direito corresponde um dever de cidadão.

Quem aceita essa prática, não tem o direito de reclamar quando um político pede abatimentos, descontos ou isenções na sua ética parlamentar.