Do Blog do Josias A liderança política de Renan Calheiros está, na opinião de Lula, ferida de morte.
O presidente crê que, ainda que salve o mandato na sessão secreta desta quarta-feira (12), o senador será compelido a deixar a cadeira de presidente do Senado.
Sob pena de continuar na zona de tiro.
O que não serve aos interesses do governo.
As opiniões de Lula foram exprimidas, em privado, numa conversa que teve com um de seus ministros.
Deu-se na última sexta-feira (7).
No sábado, o ministro contou o que ouvira a um senador governista, com quem o blog conversou na noite deste domingo (9).
Os raciocínios expostos pelo presidente ajudam a explicar as declarações que ele vem pronunciando em público.
Em contraste com a solidariedade esboçada entre quatro paredes, Lula como que lava as mãos em público.
Disse em duas oportunidades que o Renangate é problema do Congresso.
Esforça-se para simular distanciamento.
O presidente parece preocupado com o grau de envenenamento das relações políticas no Senado.
Afirmou que, antes da crise, Renan trafegava com notável desenvoltura em todas as legendas.
Cultivava boas relações inclusive com a oposição.
O que era bom para o governo.
Depois que foi soterrado por um desmoronamento de suspeições variadas, Renan perdeu, na opinião de Lula, a capacidade de interlocução.
O presidente receia que o senador já não reúna forças para recompor os liames rompidos.
O que é, disse ele, muito ruim para o governo, às voltas com a urgência de aprovar a renovação da CPMF, o imposto do cheque.
Lula cobre Renan de elogios.
Exalta a gana, o sangue frio com que o senador vem se portando diante da trovoada que lhe chove sobre a cabeça.
Chegou mesmo a dizer que, pelo esforço que empreende para provar-se inocente, Renan merece ser absolvido.
O melhor, diz ele, seria que a análise do mérito das acusações fosse feita pelo Ministério Público e pelo Judiciário.
Mas acha que o resgate do mandato, a essa altura, terá um valor meramente pessoal.
Em termos políticos, significará pouco.
De acordo com o relato feito pelo ministro ao senador ouvido pelo repórter, o presidente parece convencido de que a absolvição, em vez de pôr fim à crise, pode tonificá-la.
A oposição, disse Lula, não dará trégua a Renan.
A convicção de Lula parece fazer nexo.
Em telefonemas trocados neste final de semana, lideranças da oposição esboçaram um cerco a Renan caso ele venha a ser poupado pela maioria dos colegas na escuridão do voto secreto. ‘Demos’ e tucanos tramam fustigar Renan com as outras três representação que tramitam contra ele.
Em especial aquela em que é acusado de adquirir empresas de comunicação em Alagoas por meio de sócios-laranjas, com verbas não-declaradas à Receita Federal. “Vamos empurrar as três representações em cima dele”, disse a um interlocutor, por exemplo, José Agripino Maia (RN), o líder do DEM.
Agripino aproveitou o feriadão para descansar no Chile.
Manteve-se, porém, pendurado ao celular. “E virá a quarta representação, a quinta…”, exagerou.
Os líderes oposicionistas trocaram idéias também sobre o comportamento que irão adotar caso Renan, na última volta do relógio, resolva anunciar ao plenário a intenção de afastar-se do comando do Senado.
A avaliação generalizada é a de que, a essa altura, trocar o mandato pelo compromisso de renúncia ou de licença implicaria a desmoralização do Senado perante a opinião pública.
Afirma-se que a costura do grupo de Renan é tardia.
Recorda-se que há na praça o relatório em que o Conselho de Ética atestou a quebra de decoro do senador.
São contrários à negociação temporã, entre outros, Agripino; Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE); Renato Casagrande (ES), líder do PSB; Arthur Virgílio (AM) e Tasso Jereissati (CE), respectivamente líder e presidente do PSDB.
Para desassossego do grupo, estima-se que um eventual movimento de Renan rumo à porta de saída da presidência do Senado pode sensibilizar entre meia dúzia e dez senadores que hoje pendem pela cassação. É algo que, em meio à justeza que marca a guerra de números do Senado, pode significar a preservação da cabeça de Renan.