Da Folha de São Paulo O Palácio do Planalto tem pressionado o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a se licenciar do cargo caso seja absolvido em plenário na quarta-feira.

Nessa data, a Casa julgará, em votação e sessão secretas, o pedido de cassação de seu mandato aprovado pelo Conselho de Ética.

A articulação pretende encerrar a crise que domina o Senado desde o fim de maio.

Uma eventual absolvição de Renan não deve ser suficiente, já que ele ainda enfrentará mais três processos por quebra de decoro.

Essa também é uma preocupação predominante na Casa, já que o desgaste da instituição afeta todos os seus integrantes.

Discretamente, o ministro Walfrido dos Mares Guia (Relações Institucionais) tem trabalhado com articuladores políticos do governo no Senado para salvar Renan.

Walfrido avalia que o senador será absolvido por margem apertada.

Nos bastidores, o ministro peemedebista Nelson Jobim (Defesa) tem sido um dos principais conselheiros do presidente do Senado, de quem é amigo.

O ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP) também tem atuado em favor de Renan.

As ações de Jobim, Sarney e Walfrido visam preservar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Oficialmente, a posição do governo é de neutralidade.

Lula diz que não se intrometerá nos assuntos do Senado.

Walfrido e o colega Tarso Genro (Justiça) negaram que o governo esteja atuando em favor de Renan.

No entanto, há um trabalho de bastidor para ajudar o peemedebista a obter 8 votos entre os 12 senadores petistas e a conseguir apoio de oposicionistas do DEM e do PSDB.

Para cassar Renan, são necessários 41 votos -há 81 senadores.

Eleição e CPMF O temor do Planalto é que a cassação de Renan abra espaço para a eleição de um oposicionista ou de um governista independente demais para a presidência do Senado.

Outra preocupação é que a guerra política prejudique a aprovação, na virada de outubro para novembro, da prorrogação da CPMF, o chamado imposto do cheque.

Uma vez garantida a vitória de Renan na quarta-feira, o governo avalia que ele poderia, em um gesto para apaziguar ânimos, pedir licença da presidência até o final das investigações no Conselho de Ética.

Essa manobra deixaria o comando da Casa com o primeiro vice-presidente, o petista Tião Viana (AC).

Assim, o Senado ficaria nas mãos de alguém da confiança do governo.

A próxima eleição para o comando da Casa acontece em 2009.

A solução não agrada a todos. “Esse é o pior cenário para a instituição.

Se isso acontecer o Senado vai ficar com todo o desgaste da absolvição, vai ficar como conivente, e o Renan sairá por cima, fazendo um gesto grandioso”, afirmou o senador Cristovam Buarque (PDT-DF).

Renan tem resistido às pressões para se licenciar da presidência em troca de não ser cassado.

Entretanto, peemedebistas que conversaram com o senador nos últimos dias disseram à Folha que Renan já admite pensar na licença após a votação de quarta.

Ele não aceitou um acordo proposto pela oposição para deixar o cargo antes da votação, em troca da garantia de ser absolvido, porque isso, na sua avaliação, soaria como um atestado de culpa.

Ele também afirmou a aliados que perderia o controle do processo se deixasse a presidência antes do julgamento.

Ele só aceitará essa proposta se considerar que é grande a chance de ser cassado. “Não vi em momento nenhum o presidente Renan colocar o Senado em primeiro lugar.

Quando a Casa está exposta todos os senadores estão expostos”, afirmou o senador César Borges (DEM-BA), que é um dos integrantes da Mesa.

O presidente do Senado já ouviu que o governo tem interesse no final da crise na Casa e que a continuação de um clima de guerra acabaria por levá-lo ao isolamento.

Agora, o governo espera que Renan faça um aceno para a oposição.

Um discurso conciliador na sessão secreta de quarta pode trazer tal aceno, dizem integrantes do governo e da cúpula do PMDB.