Da Veja O advogado Bruno Brito Lins freqüentou durante anos a intimidade do lobista Luiz Garcia Coelho.

Na semana passada, VEJA revelou o teor de um depoimento prestado por Bruno à polícia no qual relata negociatas conduzidas pelo lobista em parceria com o presidente do Senado, Renan Calheiros.

Desde então, por medo de represálias, Bruno dorme cada dia em um endereço e desligou o celular.

Na noite de terça-feira, o advogado prestou um depoimento sigiloso à Polícia Federal.

Bruno contou em detalhes como sacou milhões de reais no BMG a mando do lobista Luiz Coelho e como distribuiu parte do dinheiro a um deputado federal.

Na quarta-feira, Bruno Lins recebeu VEJA para sua primeira entrevista sobre o caso.

Durante duas horas e meia, ele detalhou como funcionavam os negócios clandestinos do lobista Coelho, seu ex-sogro, a parceria que ele mantém com Renan Calheiros, a quem chama de “chefe”, e a intimidade que existe entre os dois.

Contou também minúcias da participação do lobista em um dos mais nebulosos negócios do atual governo, o crédito consignado para aposentados, e entregou documentos para provar o que dizia.

Bruno revelou ainda que Flávia Coelho, sua ex-mulher, usa o gabinete e o prestígio de Renan Calheiros para intermediar encontros do lobista com funcionários do governo.

Por fim, narrou como foi convidado a participar de um golpe contra o fundo de pensão Postalis.

O CHEFE Bruno conviveu com o lobista Luiz Garcia Coelho desde que começou a namorar sua filha, dez anos atrás.

A convivência, em alguns momentos muito intensa, consolidou nele a certeza de que o ex-sogro e Renan Calheiros são muito mais que simples amigos.

São parceiros, sócios e cúmplices em operações e negócios que envolvem interesses dentro do governo. “O Luiz sempre dizia que operava para o Renan”, conta Bruno. É sabido em Brasília que o presidente do Senado e Luiz Coelho são amigos há pelo menos quinze anos.

A intimidade é tamanha que Coelho convidou Renan, em maio de 2000, para ser padrinho do casamento de sua filha, funcionária de confiança do senador.

Há semanas em que os dois chegam a se encontrar diariamente, sempre à noite, no fim do expediente, na residência oficial da presidência do Senado.

Diz Bruno: “O Luiz sempre freqüentou a casa do presidente do senado.

Eu escutava ele dizendo: \Estou indo para a casa do chefe.

Não tenho hora para voltar.

Isso costumava ser no fim da noite. Às vezes, voltava só de madrugada”.

Quando você soube pela primeira vez da relação de Renan Calheiros com o seu sogro, Luiz Coelho?

No meu casamento.

Fiquei sabendo um mês antes que ele seria padrinho, convidado pelo Luiz.

Por que você diz que ele é homem de confiança de Renan Calheiros?

Ele trabalhava em tempo integral para Renan?

Ele sempre dizia que ia sair para resolver alguma coisa para o Renan, ou para ir à casa do senador.

Como seu sogro se referia a Renan?

Na frente dos outros, ele quase nunca falava o nome do senador.

Em casa, Renan era chamado de chefe.

Bruno faz, inclusive, uma nova revelação sobre as conexões entre o presidente do Senado e o lobista Coelho.

Segundo ele, sua ex-mulher vale-se do cargo de assessora de Renan para marcar audiências para “clientes” do pai com ministros e autoridades do governo.

Para isso, ela usa o e-mail do gabinete e desfruta o prestígio do cargo de chefe de cerimonial da Presidência.

Explica Bruno: “O Luiz usa esse artifício para marcar audiências no governo.

Funciona perfeitamente.

Oficialmente, é um pedido do senador, mas quem vai é o Luiz.

Imagine se alguém vai recusar um pedido de audiência feito em nome do presidente do Congresso”.

O advogado não sabe se o senador tem conhecimento de todas as audiências solicitadas em seu nome pela assessora, mas não tem dúvida de que a ex-mulher tem carta-branca para atuar. “Até onde eu sei, não é nada escondido.” Pelos comentários que ele vivia fazendo, de que o “chefe” estava dando trabalho, estava dando dor de cabeça, que o fazia trabalhar demais.

Eu via o que estava acontecendo.

Os comentários sobre Renan eram recorrentes.