Da Istoé O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, autor da denúncia contra os 40 do mensalão, está com a caneta tinindo.

Na quarta-feira 5, antes de receber ISTOÉ em seu gabinete para uma entrevista de quase duas horas, ele despachou para o ministro Joaquim Barbosa, relator do caso no Supremo Tribunal Federal, um pedido de quebra de sigilo de telefones e contas bancárias.

O expediente faz parte da segunda etapa da investigação do escândalo.

O principal alvo é a decisão do governo federal que abriu o mercado de empréstimos consignados a aposentados do INSS ao banco mineiro BMG – o mesmo que ajudou a bancar as contas do mensalão.

Essa vertente está em fase de inquérito, mas deverá ampliar o número de políticos submetidos às barras da Suprema Corte.

Parlamentares de peso e ex-integrantes do primeiro escalão de Lula são suspeitos de negociar a benesse ao banco.

Comedido nas palavras, Souza indica que nem o presidente Lula será poupado caso haja indícios de que ele se envolveu no esquema. “A investigação está em aberto”, diz.

Há mais dor de cabeça para o governo.

O ministro da Articulação Política, Walfrido dos Mares Guia, um ex-aliado dos tucanos, está entre os investigados no inquérito que apura as origens do valerioduto na campanha do PSDB de Minas Gerais em 1998.

A denúncia será apresentada por ele ao STF até o fim do mês.

O sr. já declarou ter novas provas no caso do mensalão.

No que a investigação avançou? “Quando a denúncia foi oferecida, havia várias perícias sendo realizadas.

Essas perícias foram concluídas e vão ser juntadas.

Há pelo menos três laudos contábeis e ainda relatórios de movimentação financeira da SMP&B (agência do empresário Marcos Valério).

Todo esse material vai acrescentar provas sobre os fatos já descritos.” Concretamente, isso reforça a tese de que o mensalão era bancado com dinheiro público? “Os laudos do Visanet indicam claramente que havia dinheiro público no mensalão.

E os demais laudos comprovam tudo aquilo que as testemunhas já diziam.” O sr. está confiante que os 40 serão condenados? “Muitos dos fatos ali já contêm provas, no meu modo de ver, suficientes até para condenação.

Vamos trabalhar para fortalecê-las ainda mais e, nos casos em que se diz haver só indícios, transformar esses indícios em comprovação.” Há alguma parte da denúncia que o sr. considera mais difícil de comprovar? “Não.

Se algo não tiver consistência necessária para a condenação, o MP não vai deixar de se posicionar.

Se for o caso, até pela absolvição.

O MP não é um acusador implacável.

Mas agora não vemos nenhum motivo para alterar nada do que foi imputado.” No que se concentra a nova fase da investigação do mensalão? “Quando foi oferecida a denúncia, um novo inquérito foi aberto para investigar alguns fatos que ainda não tinham densidade suficiente para ser denunciados.

Isso, desde aquela época, está em curso e parte do material probatório serve para a ação penal que se inicia e serve para esse novo inquérito.” Há mais parlamentares sob investigação? “Existem parlamentares, sim, e é por isso que o inquérito continua no Supremo.

Mas estamos numa fase em que o quadro ainda não está bem claro.” Quantos parlamentares? “Eu prefiro não fazer indicação numérica.” Quer dizer que a quadrilha dos 40 pode ser maior? “Pode.

Mas esses fatos podem, eventualmente, ser objeto de uma outra denúncia que não guarde exatamente relação com a primeira.” Esses parlamentares são investigados pelos mesmos motivos daqueles incluídos na primeira denúncia? “São fatos que apareceram relacionados com aquelas movimentações, mas que não necessariamente estão no mesmo contexto.” O suposto favorecimento ao banco BMG nos empréstimos consignados para aposentados é uma das principais frentes dessa nova fase da investigação? “É basicamente a principal.

Existe uma ação penal originada em Minas Gerais, e que está no STF, mas essa é específica sobre gestão fraudulenta.

O inquérito segue uma outra perspectiva.

Esses fatos podem resultar numa tipificação diversificada.” O presidente Lula assinou a medida provisória que beneficiou o BMG.

Ele pode ser investigado? “A investigação está em aberto.

Na verdade, assinar atos próprios do cargo não retratam isso (envolvimento no favorecimento ao banco).

Há diversos assessores que levam o assunto quase que decidido.

Só esse fato não dá.

Não existe no inquérito nenhuma indicação de nenhum ato que sugira que (o presidente) tenha vinculação com isso.

Mas a investigação está em aberto.” O sr. não considera pouco crível que o presidente não soubesse de nada? “Nos elementos com que trabalho não encontrei nada que justificasse esse conhecimento e essa participação.

Do contrário, eu teria que fazer a denúncia.

Se alguma coisa é crível ou não é, isso é quase que um palpite.” Alguns dos acusados, dentre eles o ex-ministro José Dirceu, o acusam de perseguição.

Como o sr. lida com isso? “Toda pessoa se acha injustiçada sempre.

Eu não tive nenhuma inspiração política ao fazer a denúncia.

Uma coisa que não me interessa é o partido da pessoa.

Uma coisa que eu procuro levar com firmeza é manter uma posição equidistante das questiúnculas político- partidárias.” Além do senador Eduardo Azeredo, quem será incluído na denúncia contra os envolvidos no tucanoduto mineiro? “A definição da denúncia é só quando se assina.

A investigação foi bem feita e tem uma base probatória bem consistente.” O atual ministro Walfrido dos Mares Guia vai ser denunciado? “A investigação está em segredo de Justiça, mas todos os envolvidos são investigados.”