Da Veja O período em que Bezerra baixou a instrução e Romero Jucá tomou posse na Previdência – tudo que o BMG e Luiz Coelho queriam e planejavam – coincide com uma temporada de saques em dinheiro vivo no banco e com a distribuição de propina aos personagens envolvidos no caso.
Bruno conta que, entre o fim de março e o início de abril de 2005, fez três saques no BMG, todos por ordem de Luiz Coelho.
O primeiro no valor de 300.000 reais, o segundo de 1 milhão e o terceiro de 1,5 milhão.
Seguindo orientações do lobista, Bruno conta que foi de carro a Belo Horizonte pegar uma “encomenda”.
No meio do caminho, Coelho telefonou e lhe deu instruções: “Você vai ligar para a Cremilda e pegar 150.000 reais”.
Bruno ligou para a mulher, identificada como secretária do BMG, e combinou o local da entrega: um posto, nas imediações de Belo Horizonte. “Parei no posto e fiquei esperando”, conta Bruno.
Logo depois, um motorista, chamado Adalmar, estacionou um BMW escuro e desceu com uma sacola de papelão. “Aqui tem 300.000”, disse o motorista.
Bruno, surpreso com a quantia, ligou para Coelho para se certificar de que não havia nenhum engano.
No trajeto de volta, recebeu um telefonema da secretária de Coelho, que lhe pediu para fazer um depósito na conta de uma das empresas do sogro.
Ele não se recorda precisamente do valor total, mas garante que não foi mais que 30 000 reais.
Em Brasília, o dinheiro foi entregue ao sogro, que o guardou num cofre no quarto de sua casa, para, logo depois, começar a distribuí-lo.
O dinheiro do BMG teve que fim?
A que horas ocorreu esse encontro? À tarde.
Eu fui sozinho até o hotel.
O próprio Carlos Bezerra me atendeu.
Estava de calça jeans, sapatos e camisa social.
Entreguei a sacola na porta do quarto, ele agradeceu e eu fui embora.
Você fez mais alguma entrega de dinheiro nesse dia?
No mesmo dia, por volta das 9 da noite, Luiz me entregou 50.000 numa sacolinha, dessas de presente.
Disse: “Dá uma passadinha na casa do Leão (José Roberto Leão, diretor da Dataprev) e deixa esse negócio para ele”.
Fui à casa do Leão e entreguei a sacola.
Três semanas depois, já em abril, Coelho pediu pela segunda vez ao genro que buscasse dinheiro no BMG.
Dessa vez, numa agência em Brasília, localizada num shopping.
Coelho orientou Bruno a procurar o gerente da agência. “Eram maços de notas de 100, com cintas do Banco Central”, relembra Bruno.
O gerente informou que o pacote continha 1 milhão de reais.
Cerca de um mês depois, Bruno recebeu a terceira missão do sogro e foi novamente à agência do BMG em Brasília buscar outro “envelope”.
Como da vez anterior, Bruno recebeu o pacote das mãos do mesmo funcionário, só que com 1,5 milhão de reais.
A mansão onde eram feitas as negociatas e guardada a propina tem 1 000 metros quadrados e fica num bairro de luxo da capital.
O cofre-forte é cinza, mede cerca de 1 metro quadrado e fica escondido na suíte de Coelho, no 2º andar.
Dois ou três dias depois, o Luiz me chamou na casa dele e me pediu para levar 150 000 reais para o Carlos Bezerra, no hotel Metropolitan.