Da Veja No começo de 2005, Bruno testemunhou involuntariamente um dos negócios mais nebulosos do governo Lula.

Ele acompanhou de perto as articulações do BMG com seu sogro para viabilizar interesses do banco no Ministério da Previdência – até agora, não se sabe exatamente como o BMG, um peixe pequeno do mercado financeiro, despontou com tanta pujança na liderança do bilionário mercado dos empréstimos consignados do INSS.

O testemunho do advogado a VEJA, rico em detalhes e episódios, começa a esclarecer a história.

Em fevereiro de 2005, Bruno conta que estava jantando na casa do lobista e presenciou uma reunião de três dirigentes do BMG com o ex-sogro.

Eles conversavam na sala de estar.

Bruno, na sala ao lado, escutava tudo. “Os quatro falavam sobre a necessidade de tirar Amir Lando do Ministério da Previdência”, conta o advogado.

Além de ter testemunhado essa reunião, Bruno diz que também ouviu telefonemas de Coelho nos quais o sogro conspirava para apear Lando do Ministério da Previdência.

Quando começaram as negociações entre Luiz Coelho e o BMG?

Antes da posse do senador Renan Calheiros como presidente do Senado, nunca tinham falado de crédito consignado, de nada.

Logo depois que Renan tomou posse, as conversas sobre o BMG ficaram freqüentes, só se falava nisso.

Aliás, a cúpula do banco chegou a prestigiar a posse do senador.

Eu estava lá.

O que se falava?

Eu presenciei conversas e ouvi telefonemas nos quais o pessoal do BMG e o Luiz começaram a confabular para tirar o Amir Lando da Previdência e colocar outra pessoa.

Quem?

No começo de março de 2005, um mês depois da posse de Renan e poucos dias antes que Jucá efetivamente assumisse o Ministério da Previdência, como era desejo do grupo, Bruno conta que acompanhou Coelho até o hangar da empresa Líder, no aeroporto de Brasília. “Vamos buscar uns amigos meus”, explicou o lobista, segundo o relato de Bruno.

Os dois seguiram no carro de Bruno.

No aeroporto, um Omega aguardava os três dirigentes do BMG, que chegaram em um jatinho.

Um deles era o presidente do banco, Ricardo Guimarães.

Os dirigentes do BMG e Luiz Coelho foram até o gabinete do senador Romero Jucá. “Eles ficaram por volta de uma hora e meia dentro do gabinete”, lembra o advogado.

De lá, o carro que transportava a cúpula do BMG retornou ao aeroporto.

O que um lobista e três banqueiros foram fazer no gabinete de um senador? “O Luiz não comentou sobre o que se falou lá dentro”, diz Bruno.

Nos dias que se seguiram, as negociações entre Coelho e o BMG se intensificaram.

O advogado conta que o banco queria mudanças na instrução normativa que regulava a concessão do crédito consignado, permitindo o desconto em folha de compras feitas com cartões de crédito.

Durante as conversas sobre as alterações, diretores do banco combinaram de enviar a Luiz Coelho uma cópia da instrução vigente, para que ele se inteirasse do assunto.

Em nota, o BMG sustenta que nunca tratou do tema crédito consignado com Luiz Coelho.

Uma intrigante mensagem eletrônica foi enviada a Bruno Lins às 12h42 do dia 16 de março, por Marcus Vinicius Vieira, um dos diretores jurídicos do banco.

VEJA teve acesso à mensagem.

O e-mail desmente a versão oficial do banco sobre a conversa a respeito do crédito consignado.

Dois dias depois da mensagem, em 18 de março, o então presidente do INSS, Carlos Bezerra, assinou uma instrução normativa contendo as alterações que beneficiavam o BMG.

Eles falavam que tinham de nomear o senador Romero Jucá.