BRASÍLIA – Apesar de aparentar calma e se dizer seguro de que vai ganhar na votação em plenário, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) avaliou ontem, em conversas com aliados, a possibilidade de renunciar ao cargo e entregar a presidência do Congresso ao senador José Sarney (PMDB-AP).
Essa estratégia conflitava com os levantamentos feitos por governistas e oposicionistas – todos dizendo que, se a votação fosse hoje, Renan seria absolvido –, mas os próprios aliados diziam que a tendência, até a votação em plenário (na próxima quarta), é a situação política de Renan piorar.
Renan admitia a renúncia por saber, também, que a oposição trabalha para que, em caso de derrota, a absolvição aconteça pela menor diferença possível no placar.
Os senadores favoráveis à cassação do mandato de Renan – o que exige 41 votos – calculavam que se o presidente do Congresso ganhar por apenas um ou dois votos, ele ficará numa situação politicamente constrangedora e passível de ter a sua autoridade constantemente contestada.
Na avaliação do Planalto, esse clima político atrapalharia a tramitação e aprovação da CPMF – a maior oposição, no Congresso, à renovação da vigência da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira até 2011, está no Senado.
A oposição (PSDB e DEM) poderia se aproveitar da fragilidade política de Renan para endurecer o jogo contra a CPMF.
Com o ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP) no comando da Casa, o governo restabeleceria a calma institucional no Legislativo.
Ontem, o assunto foi discutido com o presidente Lula, com o próprio Sarney, que almoçou com Renan, com o líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (PMDB-RO), e até, em telefonemas, com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que se preparava para deixar o Haiti e voltar ao País.
A renúncia de Renan influenciaria o resultado do plenário, podendo culminar na absolvição do peemedebista.
Segundo aliados, seria a única saída de Renan, “depois de mais de 100 dias de duros golpes, ele ficaria apenas sem a presidência, mas com o gesto manteria o mandato”, avaliou um interlocutor de Renan.
Os aliados avaliam que haverá mais denúncias ao longo do feriado de 7 de Setembro e que o clima não lhe é favorável depois da decisão do Supremo, de abrir processo contra 40 mensaleiros, e de o Conselho Nacional do Ministério Público não permitir que o procurador Thales Schoedl, que matou um rapaz e feriu outro, em 2004, ficasse impune.
A renúncia de Renan só não pode suspender a votação no plenário – a legislação diz que depois de aberto o processo não há mais como a renúncia produzir o efeito de que desfrutaram, por exemplo, senadores como José Roberto Arruda (PSDB-DF), hoje governador do Distrito Federal, e ACM (DEM-BA), morto há dois meses.
Eles renunciaram antes da abertura do processo por quebra de decoro, mantiveram os direitos, disputaram a eleição seguinte e se reelegeram.
Ontem, o governo ainda trabalhava com a hipótese da vitória de Renan no plenário.
Tanto que investia em uma operação casada no Senado: trabalhava ao mesmo tempo para aprovar a PEC que prorroga a CPMF e ajudava Renan.