A Cooperativa Harmonia, os sindicatos rurais de cidades da mata sul e a Fetape cumpriram o que prometeram.

Trouxeram ao Recife, nesta quarta (5), 50 ônibus lotados de trabalhadores da antiga Usina Catende que, durante a tarde, ocuparam a sede do Incra e também fizeram uma manfiestação pacífica na frente do Tribunal de Justiça do Estado e, depois, na rua em frente ao Palácio do Governo.

O saldo parece ter sido positivo, visto que um dos principais objetivos do que foi chamada a 2a Marcha ao Recife - a primeira aconteceu em 1996, um ano depois de decretada a falência da Catende - era justamente mostrar a força da Cooperativa e do síndico da massa falida da usina, Marivaldo de Andrade, como legítimos representantes dos trabalhadores assentados em Catende. “Vamos superar os desafios que ainda existem se não nos dividirmos por questões menores”, disse o governador Eduardo Campos, para delírio dos trabalhadores que se aglomeraram, atrás de cavaletes, em frente ao palácio, já no início da noite.

No último mês, a Cooperativa Harmonia e o síndico da massa falida, Marivaldo de Andrade, foram alvos de denúncias por parte de duas entidades que procuram ampliar espaços dentro do assentamento Agroindustrial Miguel Arraes, na antiga Usina Catende.

Uma é o Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar de Catende (Sintaf), ligado ao MST, que não concorda com o modelo coletivo de reforma agrária a ser oficialmente implantado na área.

A outra é o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco.

BONEZINHO Usando um bonezinho verde da Fetape, sem paletó, e em cima de uma cadeira improvisada como palanque, Eduardo lembrou sua experiência ao lado do avô Miguel Arraes. “Isso me faz lembrar de muitos momentos especiais que vi o doutor Arraes passar nessa luta”, afirmou.

Eduardo Campos recebeu uma comissão de lideranças dos trabalhadores e prometeu levar as reivindicações para o Ministério do Desenvolvimento Agrário na próxima semana.

Ele também ganhou de presente dos trabalhadores uma placa com frase do seu avô, fazendo alusão ao projeto de reforma agrária da Usina Catende. “Vou deixar essa placa lá no meu gabinete pra não esquercer da história e da luta de vocês”.

INCRA Mais cedo, na sede do Incra, no bairro dos Aflitos, os trabalhadores foram recebeidos pelo superintendente regional da entidade, Francisco José Nascimento.

Ele se comprometeu em brigar para dar maior velocidade à liberação de créditos necessários para o assentamento no sentido de que possa ser iniciada, até o final do mês, a moagem da safra de cana para produção de açúcar.

Também ficou de analisar a possibilidade de desapropriar as instalações industriais da Usina Catende em favor da Cooperativa Harmonia, que representa os trabalhadores.

Mas advertiu que, só a avaliação da unidade, é um trabalho para três, quatro meses.

As terras da Usina Catende foram desapropriadas, passando do patrimônio da massa falida para o Incra.

Falta transferir a posse para os trabalhadores, mas o prazo e a forma como isso vai se dar ainda não foram definidos.

As instalações industriais continuam pertencendo à massa falida - que na prática é o patromônio da empresa que foi extinta, administrado sob orientação da justiça.

O síndico da massa falida, Marivaldo de Andrade, foi indicado para o posto pela maioria dos trabalhadores da Catende.

Ele próprio já foi empregado da usina e no momento também é presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Jaqueira, na mata sul.

Sobre o modelo de reforma agrária a ser implantado no assentamento Miguel Arraes em Catende, o superientendete regional do Incra disse que ainda é possível negociar.

Mas lembrou que a Cooperativa Harmonia, ligada à Fetape, representa uma percela muito maior de trabalhadores que o Sintaf de Catende, ligado ao MST.

A Cooperativa e a Fetape levaram nesta quarta ao Incra, mais de dois mil trabalhadores.

Na semana passada, o Sintaf ocupou a sede do órgão com cerca de 200 agricultores.

De qualquer modo, Francisco Nascimento acredita que o modelo de reforma agrária com mais chances de dar certo é o coletivo. “Os assentamentos de Pernambuco, cerca de 260, estão falidos por que cada um (cada família) demarcou seu próprio lote”, opinou.

FALÊNCIA O síndico da massa falida, Marivaldo de Andrade, acompanhado pelo advogado de duas mil famílias da Usina Catende, Bruno Ribeiro, também visitou nesta quarta (5) o Ministério Público do Trabalho da 6a Região e o Tribunal de Justiça do Estado, onde manteve um rápido encontro com o presidente do órgão, desembargador Fausto Freitas.

No MPT, Marivaldo defendeu-se das acusações de estar se apropriando de patrimônio pertencente à União e de manobrar os trabalhadores da Usina Catende para obter empréstimos irregulares através do Pronaf.

As denúncias foram apresentadas pelo presidente do Sindicato do Trabalhadores na Indústria do Açúcar e do Álcool, Laan Izidoro.

O procurador do trabalho José Laízio Pinto Júnior disse que ainda é muito cedo para chegar a uma conclusão.

E nos próximos dias deve notificar Izidoro para prestar esclarecimentos.

No Tribunal de Justiça, a comissão de representantes dos trabalhadores foi pedir ao presidente Fausto Freitas que interceda na questão visando ao fim do processo de falência da Usina Catende.

Isso agilizaria a regularização do assentamento Agroindustrial Miguel Arraes onde hoje vivem cerca de 4,3 mil famílias - 3,8 mil de trabalhadores rurais e 500 de operários da indústria. “Desde que as terras foram desapropriadas, os antigos dono da Catende não têm mais esperança de reaver a usina”, contou o advogado Bruno Riberiro. “Não há mais o litígio.

Não há motivos para manter o processo de falência”, avaliou.

Leia nos posts anteriores, o que publicamos sobre a marcha dos trabalhadores da Usina Catende ao Recife, nesta quarta.