“Senhor Presidente, Senhoras Senadoras Senhores Senadores Muita coisa mudou no Partido dos Trabalhadores e no Presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a conquista da Presidência da República.
A lista do contorcionismo político é gigantesca, variada e conhecida, mas hoje pretendo me dedicar ao relacionamento de ambos com a Imprensa.
São episódios que sugerem conseqüências preocupantes para a liberdade de Imprensa no Brasil, tão alarmante quanto a anacrônica luta de classes estimulada quase que diariamente pelo Presidente.
A liberdade de expressão é um direito humano inalienável e sua proteção, um elemento essencial para as sociedades democráticas.
Nunca é demais lembrar a célebre frase “posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até o fim o seu direito de dizer”.
Num regime democrático, a relação entre Poder e Imprensa sempre será tensa, mas imprescindível.
Numa ditadura, não existe esta relação, não há liberdade.
Existe censura, repressão.
Num regime de força como o que o Brasil viveu durante boa parte do século passado, o ditador de plantão é quem tem a palavra final.
E não é isso que queremos novamente para o nosso País.
Não vou aqui dizer que nunca tive divergências com jornalistas, que aprovo tudo o que é dito sobre o meu trabalho, quer seja como Senador, Deputado, Prefeito ou Governador de Estado.
A Imprensa, como qualquer outra instituição, comete erros e pode ter uma opinião diferente da minha.
Mas não é esta a questão entre o PT, Lula e a maior parte da Imprensa.
Este falso confronto expõe as contradições do grupo político que cerca o Presidente da República.
Senhor Presidente, Quem acompanha a política brasileira nos últimos 27 anos sabe o quanto o PT deve à Imprensa livre.
Afinal, a imagem de um partido ético, inovador e diferente dos demais foi construída a partir de milhares de reportagens veiculadas por este País afora, em jornais, emissoras de rádio, emissoras de TV e, mais recentemente, pela Internet.
Poderíamos dizer, sem medo de errar, que o PT é o principal filho da liberdade de Imprensa obtida com o fim da ditadura que se instalou no Brasil em 1964.
Se for realizado um levantamento, por exemplo, nos jornais brasileiros, entre o ano de criação do PT e sua chegada ao poder federal, veremos que este balanço será extremamente favorável.
Só não sei se continuará assim a partir de 2003, quando o PT e o Governo se envolveram em escândalos variados como o caso Waldomiro Diniz, o dos “vampiros” e os “sanguessugas” que foram levados para dentro do Ministério da Saúde, o dos Correios que expôs para todo o País o fisiologismo criminoso do “mensalão”, o dossiê dos “aloprados” na última campanha, e outros tantos envolvendo as estatais e os bancos oficiais. É uma lista tão vasta que precisaria de um discurso completo para reavivar na memória de todos, as irregularidades cometidas, muitas delas até hoje sem um desfecho, sem punição dos responsáveis.
Dessa forma, Senhor Presidente, cai como uma luva a frase utilizada por um dos decanos do jornalismo brasileiro, Alberto Dines, numa recente análise publicada no *Observatório da Imprensa *: “nunca neste País houve um candidato com tantos amigos na mídia”.
Dines se refere ao bom tratamento que Lula recebeu nas eleições presidenciais de 1989, 1994, 1998 e mesmo em 2002, quando logrou êxito na conquista da Presidência.
Mas alguma coisa aconteceu com a chegada dos petistas ao Palácio do Planalto. Mudaram Lula e o PT ou mudou a mídia brasileira? Fico como primeira hipótese.
De repente, os petistas viraram repórteres, se transformaram em editores.
Começaram a questionar as pautas, a reclamar das manchetes, a apontar uma conspiração da qual faz parte a maioria dos jornalistas, colunistas, articulistas da grande imprensa nacional.
Que conspiração é esta, repetida reiteradamente pelo PT?
Foi a Imprensa que comprou o apoio de deputados para votarem com o Governo?
Foi a Imprensa que ampliou os gastos com os cartões corporativos da Presidência?
Foi a Imprensa que quebrou o sigilo bancário de um simples caseiro?
Foram repórteres pegos transportando dólares nas cuecas?
Foram editores que aparelharam a máquina pública federal?
Foram os colunistas que transferiam recursos de estatais para fazer campanha petista?
Foram os articulistas que se envolveram em mortes suspeitas de prefeitos do PT de São Paulo?
Ninguém do PT lembra mais do suporte que recebeu para questionar todos os Presidentes da República que estiveram no Palácio do Planalto entre 1985 e 2002.
Será que o Presidente Lula teria conquistado a Presidência, há cinco anos, se a Imprensa realmente era contra os petistas?
Senhor Presidente, Desde que integrantes do Governo foram pegos com a “boca na botija”, cometendo uma seqüência de delitos nunca vista na História do Brasil, que a relação com a Imprensa mudou.
O mote foi dado pelo próprio Presidente da República em 2005, logo após vir a público a existência do “mensalão”.
Lula passou a posar de vítima, a apontar um inexistente “complô” da mídia.
Se o Presidente é vítima de algo, talvez seja da sua omissão para episódios da maior gravidade que aconteceram dentro do Palácio do Planalto e contaram com a participação de seus ilustres ocupantes nos últimos quatro anos, cujas atividades são tipificadas em boa parte do Código Penal.
Ou alguém pode esquecer-se que José Dirceu, Waldomiro Diniz, Luiz Gushiken, Freud Godoy e Marco Aurélio Garcia ocupavam salas próximas às do Presidente?
Nunca na história deste País um Presidente da República reclamou tanto da mídia quanto Lula.
O Presidente parece que esqueceu que foi com a ajuda da Imprensa que construiu sua imagem do nordestino batalhador, de origem pobre, que após uma trajetória de vida inspiradora chegou ao comando de um dos maiores países do planeta.
Senhor Presidente, Quando era apenas candidato, Lula nunca teve problemas em conversar com os jornalistas.
Muito pelo contrário, tinha sempre uma frase de impacto para criticar o Governo.
Talvez porque naquela época o Presidente era um “principista”, para repetir a expressão utilizada por ele na recente entrevista ao jornal O Estado de São Paulo.
No poder, Lula tem preferido os palanques, nos quais diz o que quer, como bem entende, sem ser questionado, sem ser confrontado.
Talvez por isso surjam tantas barbaridades, prontamente registradas pelas câmeras e pelos gravadores, que depois fazem a festa da Internet.
Na mesma entrevista ao Estadão, o Presidente parece que não perdeu o surrealismo que marca sua retórica palanqueira ao afirmar, abre aspas: “Tem muita gente que tenta criar uma disputa entre pobres e classe média, que eu acho que não existe”. Presidente Lula, quem alimenta esse embate esquizofrênico e intempestivo é Vossa Excelência. Este comportamento equivocado do PT e do Presidente da República já está contaminando outros setores da base governista.
Só isso explica a iniciativa de aliados do Presidente Renan Calheiros, que, em retaliação a reportagens publicadas pela revista Veja, articulam a criação de uma CPI para investigar a venda pelo Grupo Abril da TVA ao Grupo Telefônica.
Trata-se de um sério precedente, pois o que ocorrerá se cada um dos 81 Senadores ou 503 Deputados resolvem adotar procedimento semelhante?
Se algo precisa ser investigado na transferência de controle da TV a cabo, que seja, mas é imoral fazer isso por causa das divergências do Presidente do Senado com a revista Veja.
Soa como chantagem e uma séria ameaça à liberdade de Imprensa. É por essas e outras que sobram críticas do PT à mídia brasileira, porque ela, ao contrário dos intelectuais silenciosos, não vai abrir mão de questionar os desvios éticos do partido; porque a Imprensa não assistirá passiva ao Estado brasileiro ser colocado à disposição de um grupo político.
Não adianta acusar a Imprensa de “pôr a faca” no pescoço, de cobrar um comportamento diferente do Congresso Nacional e do Governo e até mesmo do Supremo Tribunal Federal.
Prefiro a cobrança livre da Imprensa do que a visão totalitária do governante de plantão.
Para concluir, faço minhas, mais uma vez, as palavras de Alberto Dines: “A Imprensa não pensa que tem o dom da verdade.
Ela somente busca a verdade.
Quem parece detestá-la é o Presidente Lula”.
Presidente, não se iluda, o Brasil não é a Venezuela!
Muito obrigado!”