Num tom mais incisivo que o do Exército, o Clube Naval também reagiu à forma como foi lançado, pelo governo, o livro Direito à Memória e à Verdade – que relata torturas e casos de desaparecidos políticos durante o período de regime militar.

O texto do Clube, divulgado também na última sexta-feira, traz críticas diretas ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, por ter afirmado, no lançamento do livro, que “não haverá indivíduo que possa reagir (ao livro) e, se houver, terá resposta”.

A frase do ministro irritou os militares e foi considerado “uma afronta desnecessária”.

Na sua réplica, o Clube Naval define o gesto do ministro como “uma infeliz figura de retórica, que soa como pequena bravata, fora de propósito, aliás”.

Assinado pelo almirante de Esquadra José Júlio Pedrosa, presidente do Clube Naval, o texto explica que não foi o livro que mais irritou o pessoal da Marinha. “Entre perplexos e indignados, presenciamos o triste espetáculo do lançamento, em Brasília, de um livro carregado de ressentimento e inverdades”, afirma o texto. “Obviamente, não foi o livro em si o motivo da revolta.

Afinal, muitas outras obras do gênero já foram publicadas e, em uma democracia, devemos admitir que todos têm o direito de expressar suas idéias.

O sentimento de afronta tem origem no caráter oficial dado ao ato, na presença do próprio presidente da República, comandante-em-chefe das Forças Armadas, e na infeliz participação do ministro da Defesa.” Depois o documento faz elogios ao ministro Jobim, que “chegou ao Ministério no bojo de grave crise” e “demonstrou vontade de acertar, conseguindo passar à opinião pública algumas qualidades importantes: apetite para o exercício da autoridade, algo mais do que necessário, vontade de participar das atividades desenvolvidas no âmbito das Forças Armadas, algo desejável a quem pretenda entender as peculiaridades do cargo, e percepção rápida de uma prioridade primordial – aumentar a dotação orçamentária das Forças Armadas”.

Mas, em seguida, muda o tom: “Nesse contexto, é preferível entender a despropositada ameaça proferida pelo ministro apenas como uma infeliz figura de retórica, que soa como pequena bravata, fora de propósito, aliás.” Na nota do Exército, o comandante da arma, general Enzo Martins Peri, havia dito, sobre críticas aos militares do passado, que “não há Exércitos distintos”. “Ao longo da História, temos sido sempre o mesmo Exército de Caxias, referência em termos de ética e de moral”.