Por Robero Vieira No dia 4 de outubro de 1501, os navegantes Américo Vespúcio e André Gonçalves descobriram um rio que os índios chamavam de Opara, ou Rio-Mar.

Era um rio tão grande que parecia um mar.

Em homenagem ao santo de Assis, batizaram-no rio São Francisco.

Já o povo o batizou carinhosamente de Velho Chico.

Do outro lado do mundo havia um lago que de tão grande batizaram de mar.

Mar de Aral.

O que une o rio e o mar?

As estepes e o sertão?

Devido a projetos megalomaníacos de sucessivos governos soviéticos, desviando as águas dos seus afluentes para a irrigação das estepes, um dos grandes mares interiores da Terra passou a ser um deserto de sal.

A água hoje se encontra repleta de resíduos de agrotóxicos.

A região que já era pobre, agora se encontra miserável.

Parodiando as profecias de Antonio Conselheiro, o Mar de Aral virou sertão.

Ao tomar o conhecimento deste fato, o Velho Chico gostaria de respostas para algumas perguntas que andam lhe tirando o sono.

A quem serve a transposição das águas?

Como resolver o paradoxo que, o período de maior necessidade das águas nos rios intermitentes é também o de maior necessidade de água nas hidrelétricas?

Como iniciar um projeto de transposição sem antes resolver o desmatamento das várzeas, a pesca predatória, as queimadas, o garimpo, o assoreamento e a irrigação desenfreada?

Qual o custo da água e quem vai pagar por ela?

Pois o Velho Chico afirma que esta conversa é antiga.

Vem de muitas décadas atrás.

Pra provar ele mostra até uns recortes de jornal de 1983 quando o então ministro Mario Andreazza veio lhe pedir ajuda para salvar o Nordeste.

O Velho Chico insiste que outra coisa ele não faz desde que nasceu.

E enquanto prossegue em seu caminho, o Velho Chico manda dizer que só não quer ficar na memória.

Ele prefere ficar vivo.

Bem vivo.