Irritado com os petistas que defenderam um ato de desagravo ao ex-chefe da Casa Civil José Dirceu e ao deputado José Genoino (SP), réus no processo criminal aberto há quatro dias pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou ontem um recado aos dirigentes do PT reunidos no 3º Congresso do partido: disse que não quer ver o escândalo do mensalão invadindo o encontro.
Lula faria a abertura do evento, ontem à noite (sexta,31), mas adiou o pronunciamento para a manhã deste sábado.
Ficou muito contrariado ao saber que integrantes do antigo Campo Majoritário pregaram o desagravo aos petistas acusados de corrupção ativa e formação de quadrilha, embora seja pessoalmente solidário a alguns deles. “Transformar o congresso num ato de desagravo ou ajuste de contas é aceitar a pauta da oposição”, disse o presidente, em conversas reservadas, de acordo com auxiliares.
Lula insistiu em que o encontro deve discutir as reformas do partido e a renovação da direção, não alimentar agenda negativa.
Ao chegar ontem ao Centro de Exposições Imigrantes, onde se realiza o congresso, Dirceu foi muito abraçado e posou para fotos ao lado de militantes. “O presidente Lula não tem de me defender.
Eu me defendo sozinho e o PT também”, declarou.
Genoino repetiu várias vezes que só espera “justiça”. “A verdade vai me defender no Supremo”, afirmou.
Também recebeu apoio e cumprimentos de dezenas de militantes, logo que entrou no plenário.
O presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), tentou desfazer o mal-estar causado pela notícia de que haveria um desagravo.
Motivo: integrantes da corrente Mensagem ao Partido, capitaneada pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, ameaçaram vaiar o ex-ministro Dirceu.
Tarso é o seu maior adversário no PT.
Questionado sobre a ausência de Lula no primeiro dia do encontro, Berzoini disse que o presidente “julgou mais produtivo” fazer um pronunciamento político mais longo do que apenas uma saudação.
Afirmou, ainda, não haver nenhum “ato coletivo” programado de solidariedade. “O que há são manifestações individuais de pessoas solidárias com companheiros, que merecem todo o nosso respeito”, comentou. “Nós respeitamos qualquer manifestação: as favoráveis e as desfavoráveis.” O tema dividiu a abertura do congresso petista.
Para Valter Pomar, secretário de Relações Internacionais do partido, o julgamento do STF não pode contaminar o encontro e muito menos dominar os debates. “Temos uma pauta extremamente carregada e eu não acho que esse tema deva merecer tanta atenção assim”, disse.
Da tendência Articulação de Esquerda, Pomar é um dos mais ácidos críticos da linha política adotada pelo PT desde 1995, quando o antigo Campo Majoritário assumiu a direção.
TROCA Com a “advertência” do presidente Lula, os petistas envolvidos no escândalo do mensalão trocaram ontem o esperado ato de desagravo pela solidariedade discreta do partido.
O próprio ex-deputado João Paulo Cunha (PT-SP), que na noite da quinta-feira (30) fizera uma “pizzada” em sua própria homenagem, chegou ao congresso do PT afirmando que o caso já causou danos ao partido e que não deveria ser abordado nos discursos dos dirigentes durante o Congresso Nacional da legenda, que vai até este domingo (2). “O Partido dos Trabalhadores já foi muito prejudicado com isso nas eleições.
E apoio nós temos tido, ninguém pode dizer que não”, disse o ex-presidente da Câmara.